segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Constipações

O deputado comunista Aníbal Pires defendeu que os açorianos não deveriam sofrer os efeitos das medidas decretadas para debelar a grave crise que atormenta o país porque não contribuímos para ela. E tem toda a razão; disseram-no os autonomistas de 1895 pela voz de Mont’Alverne de Sequeira, disse-o este vosso criado na crise de oitenta e di-lo agora o porta-voz dos comunistas açorianos. Tivemos sempre razão. Apesar de irritantes desacertos de que padecem todas as Administrações, que aparecem como nódoas no melhor pano, a verdade é que os governos açorianos têm governado com bom senso e equilíbrio, sem desperdícios, conseguindo que o nível de vida seja incomensuravelmente mais elevado que o dos antigos regimes (monarquia, república e estado novo). Se assim é, afora a Administração centralizada (justiça, defesa etc.), para sermos justos, não devíamos pagar a factura que, bem vistas as coisas, não nos pertence. Claro que para Pires apenas importa os trabalhadores (no que parece não incluir os patrões, vistos por ele como uma corja de mandriões que nada faz senão explorar aqueles). Bem sei que de quando em vez, lá fala nas pequenas e médias empresas com alguma simpatia mas isso só para não alienar os pequeno burgueses que na revolução sempre são de alguma utilidade. Falo na posição de Pires sobre a crise porque parece que é a primeira vez que o seu partido toma uma atitude que toma em conta os açorianos como uma realidade diversa e isto (se ele não for entretanto mandado para a Sibéria!) é um avanço colossal numa mentalidade sempre fechada à nossa realidade histórica e geográfica (por esta ordem). Saúdo pois os ventos da mudança no partido de Lenine pois que, por uma janela aberta num dos extremos da casa pode entrar uma constipação benigna que infecte outros recantos menos extremistas.
Carlos Melo Bento
2010-10-25

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