sábado, 28 de agosto de 2010

MALES, BARULHOS ESTIVAIS E PRISÕES

MALES

Começaram as hostilidades para a presidência da República. Desde o liberalismo que, oficialmente, o chefe do estado apenas exerce uma função moderadora. Dá um puxão de orelhas aqui, chama um nome ali, um empurrão acolá... Oficialmente, porque, na prática, é o mais importante cargo político. D. Maria II impediu que certo político fosse nomeado primeiro-ministro que falara mal do pai, D. Carlos dissolveu Cortes, nomeou ditadores, até lhe darem cabo da vida e do regime. Américo Thomaz impediu Marcello Caetano de evoluir para a democracia e deu cabo do regime, o que era o menos; e do país, o que foi o pior. Depois da Revolução, são sem conta as intervenções do poder moderador que tudo alteraram. O de hoje não é diferente, já que as suas intervenções fazem funcionar mecanismos, de duvidosa legitimidade democrática mas eficazes. Por isso, não nos é indiferente a pessoa escolhida para o cargo. Basta uma sentença, irrecorrível (que país este em que meros juízes nomeados por critérios políticos de ocasião mandam mais que o próprio poder legislativo!), para que os açorianos não possam reconhecer-se como povo que efectivamente são? Cínica autonomia esta que dá com uma mão e tira com a outra. Os açorianos votantes ainda constituem um corpo eleitoral de respeito se votarem num só sentido. Divididos como se fizessem parte do mesmo campeonato (e não fazem, por mais que isso lhes doa) o seu peso é inócuo que o mesmo é dizer, não conta para nada. Por isso, chegou, penso eu, a altura de revermos a nossa postura se quisermos aspirar a alguma felicidade na nossa própria terra, deixando de ser aqueles que todos enganam e de que se riem, por detrás das costas; temos de escolher o candidato que nos sirva, mesmo que não vamos com a cara dele. Cunhal não mandou tapar a cara de Soares, para que Freitas não fosse eleito? É que, no meio da desgraça, um mal menor é melhor.
Carlos Melo Bento
2010.08.23
BARULHOS ESTIVAIS

Ruidoso saneamento de zona balnear, em Agosto, é descuido imprudente para não dizer pior. 12 meses tem o ano, e logo se escolhe o que toda a gente tem de gozar férias para dar cabo do silêncio das 8 da matina até às 5 da tarde? A culpa não foi da autarquia nem do empreiteiro mas do Tribunal de Contas. Do Tribunal de Contas! Esta justiça não tem remédio. O Tribunal de Contas encontrou uma coisinha e, essa coisinha levou dois meses a reparar. Esta justiça não acerta nem quando está parada nem quando anda! Claro que os dois meses foram até rápidos demais, conhecida como é a velocidade da burocracia nacional. Mas, Agosto!?! Vamos a ver se, entre o barulho da betoneira, o arranque e trabalho da Caterpillar (ou catrapilha, como cá se diz) e o trabalhar da estridente serra de pedra, se consigo falar doutra coisa que me atazana o miolo há tempos. Isto se o homem do cilindro parar um bocadinho a infernal máquina. Trata-se do Campo de S. Francisco, durante décadas chamado da República (o que agora seria mais apropriado). Quis o Bispo D. Manuel consagrar aquele espaço como Santuário, tal a devoção com que o nosso Povo o frequentava, todo o ano e, em especial, durante as grandiosas Festas do Senhor. Por ali, rios de lágrimas e algum sangue derramaram almas piedosas em cumprimento de promessas ou em penitência, na esperança que Antero não teve. É a todos os títulos um lugar sagrado. Mais do que a concorrência desleal, atentado ao ambiente (as bebedeiras imorais, vómitos nojentos) e o ensurdecedor batuque da pseudo música que por ali se toca até desoras, parece que a falta de respeito por um lugar dedicado por tantos de nós à oração e penitência, obriga à revisão oportuna do destino que lhe foi dado. Admiro e respeito muito a nossa Presidente da Câmara mas parece errado. Numa cidade tão grande, certamente haverá lugar mais adequado para animar os que gostam daquilo.
Carlos Melo Bento
17.08.2010
PRISÕES

As estatísticas dizem que mais de dois mil portugueses estão presos no estrangeiro. Quantos desses desgraçados serão açorianos é o que ainda se não sabe. Mas era bom que o Ministério dos Negócios Estrangeiros nos dissesse se há algum que necessite dos nossos cuidados. “Somos um Povo que quer ser respeitado”, gritou-se então, e, para isso, é preciso que em primeiro lugar nos demos ao respeito. Somos, como os portugueses de antanho, aventureiros dos sete mares, corre-nos nas veias o sangue dos Dias, dos Cabrais e dos Gamas e muitos de nós só sentem prazer e realização pessoal com as viagens por terra e mar. Em suma, gostamos de nos meter em sarilhos. Daí que é fácil calcular que, dos presos em terra estranha, estejam alguns dos nossos. Inocentes ou culpados, tanto faz pois que são do nosso sangue e compete-nos olhar por todos os que, sendo nossos, de nós precisem. Se não contarem connosco não podem contar com mais ninguém. Por aqui vem outra questão que venho levantando há trinta anos. Trata-se das relações directas com o estrangeiro, no nosso interesse exclusivo. Quando Natalino de Viveiros era Secretário, houve uma tímida tentativa de controlar o comércio externo e, durante alguns meses, a coisa funcionou até que os “intermediários” do costume se intrometeram e lá fomos proibidos de governar esse nosso importante factor de desenvolvimento, pela odiosa tutela centralista. Importações directas é coisa impensável (para eles) pois, como os bens têm de circular livremente no País, Lisboa perdia o controlo e, portanto, não. Resultado, uma boa parte da riqueza que poderíamos gerar deixou de o ser. Assim, a autonomia, tal como está, é mais colete do que alavanca do progresso. Outra questão é a Base e ainda outra a Diáspora. Nada nem ninguém se deve poder intrometer entre nós e tais assuntos. Senão, a autonomia não passa duma farsa.
Carlos Melo Bento
2010-08-10


terça-feira, 10 de agosto de 2010

Prisões

As estatísticas dizem que mais de dois mil portugueses estão presos no estrangeiro. Quantos desses desgraçados serão açorianos é o que ainda se não sabe. Mas era bom que o Ministério dos Negócios Estrangeiros nos dissesse se há algum que necessite dos nossos cuidados. “Somos um Povo que quer ser respeitado”, gritou-se então, e, para isso, é preciso que em primeiro lugar nos demos ao respeito. Somos, como os portugueses de antanho, aventureiros dos sete mares, corre-nos nas veias o sangue dos Dias, dos Cabrais e dos Gamas e muitos de nós só sentem prazer e realização pessoal com as viagens por terra e mar. Em suma, gostamos de nos meter em sarilhos. Daí que é fácil calcular que, dos presos em terra estranha, estejam alguns dos nossos. Inocentes ou culpados, tanto faz pois que são do nosso sangue e compete-nos olhar por todos os que, sendo nossos, de nós precisem. Se não contarem connosco não podem contar com mais ninguém. Por aqui vem outra questão que venho levantando há trinta anos. Trata-se das relações directas com o estrangeiro, no nosso interesse exclusivo. Quando Natalino de Viveiros era Secretário, houve uma tímida tentativa de controlar o comércio externo e, durante alguns meses, a coisa funcionou até que os “intermediários” do costume se intrometeram e lá fomos proibidos de governar esse nosso importante factor de desenvolvimento, pela odiosa tutela centralista. Importações directas é coisa impensável (para eles) pois, como os bens têm de circular livremente no País, Lisboa perdia o controlo e, portanto, não. Resultado, uma boa parte da riqueza que poderíamos gerar deixou de o ser. Assim, a autonomia, tal como está, é mais colete do que alavanca do progresso. Outra questão é a Base e ainda outra a Diáspora. Nada nem ninguém se deve poder intrometer entre nós e tais assuntos. Senão, a autonomia não passa duma farsa.
Carlos Melo Bento
2010-08-10