quarta-feira, 21 de abril de 2010

RTP/A, PDA E SANTA CLARA

Três instituições que têm algo de comum: deviam ser muito importantes para nós, e não são. Segundo se diz a nossa televisão tem menos de três por certo de audiência e está cheia de problemas de pessoal e material. O PDA, único partido que controlamos sem ter que fazer cedências, tem tido uma cota ridícula de votos que nem dá para eleger nem sequer pelo círculo do rendimento mínimo eleitoral. O Santa Clara, ninguém houve falar dele nos cafés ou nas rádios ou nos jornais ou na própria televisão, sendo necessário, para localizar o jogo no tempo e no espaço, consultar a internet ou qualquer adivinhador africano. O nosso melhor grupo desportivo tem menos espectadores que os telespectadores do pequeno ecrã e que votantes do nosso partido. Se o Santa Clara estivesse na 1ª liga, o turismo seria outro todo o ano que até os traidores dos açorianos vêm da América ver o seu Benfica e o seu Sporting e o seu Porto quando não põem os pés na terra que lhes serviu de berço há mais de trinta anos! Algo de errado se passa com esta geração. O meu amigo Lagarto (amigo, não correligionário, entenda-se) costuma dizer que estamos no império da mediocridade e não deixa de ter alguma razão. Mas as massas são sempre medíocres. O que distingue os países são as elites e não as massas. E o problema está nas nossas elites. Divididas, corrompidas, desinteressadas, as elites sentam-se como Lázaro debaixo da mesa a ver se caem migalhas dos banquetes dos outros. Mataram a nossa elite económico-social com uma guerra estúpida ao que chamaram os terratenentes, esquecendo-se que esta terra tudo lhes devia no estudo, no investimento, no risco e no produto económico e cultural que deixaram. O que é que a nossa vai deixar às futuras gerações: bairros sociais? Seringas partidas? Preservativos usados?
Carlos Melo Bento
2010-04-20

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Parabéns

O Açoriano é o mais antigo jornal da nossa língua, em publicação no mundo, o que dá aos nossos conterrâneos que o fundaram estatuto respeitável, ou não fosse o século XIX, momento alto da nossa existência. Certo que essa ininterrupta publicação se ficou a dever ao trabalho árduo de gerações de responsáveis inesquecíveis. Para não recuarmos muito, gostava de salientar três deles. Ferreira de Almeida, Manuel Ferreira e Gustavo Moura. Almeida foi um resistente que venceu na vida de jornalista porque administrou com sabedoria parco património, trabalhou sem descanso, dia e noite, na linha dos seus antecessores, mantendo um jornal que não envergonha e que, apesar de semanário, teve influência na opinião pública, merecendo homenagens e o respeito dos importantes na ilha, no arquipélago e no país. Manuel Ferreira porém, é o grande mestre do jornalismo açoriano, porque fundou uma escola, criou um género e deixou discípulos. Pode dizer-se que, entre os jornalistas, ele é, o jornalista. Competente, arrebatador, temível e incansável; descobre um tema, aprofunda-o, acha-lhe a solução e não o larga enquanto não o esgota e não converte o leitor e os responsáveis à sua descoberta. Com um estilo único, de sólida formação literária, com uma memória inesgotável, ele empolga o leitor deixando-o sempre sequioso por mais. Quando deixou o jornal, já este era o mais lido e procurado. Moura é seu discípulo; sem a contundência e o estilo do mestre, fez, não obstante, um jornalismo sólido, sistematicamente agarrado à verdade de que se convence, sem que disso o demova nada. Nem a cadeia onde desceu por isso mesmo! Estruturalmente sério, fez um jornal a essa altura e renovou o sucesso do Mestre. O açoriano retomou o primeiro lugar do pódio, onde tinha estado. E aí ficou. Parabéns ao venerando aniversariante e aos que lhe dão vida.
Carlos Melo Bento
2010-04-13
Eleições
Falta muito pouco tempo para escolhermos o candidato à presidência da República que teremos de apoiar. Os cobardes irão abster-se como de costume pois tanto lhes faz ditadura ou democracia, anarquia ou o que for. Quando estão mal, mudam-se para outro lado, visto que quem não tem vergonha todo o mundo é seu. Os que só lêem a Bola e quejandos, vivem no continente e só têm cá a barriga e os pés, vão votar naquele que mandarem votar as televisões, os rádios e os jornais de lá. Quem viver cá de corpo e alma terá muitas dificuldades em escolher. Cavaco Silva é o pior candidato para nós. Nem o nosso Estatuto unanimemente aprovado ele respeitou. Sempre que pôde, fez-nos a vida negra. Aos do seu próprio partido, como foi o caso de Mota Amaral, tirou-lhe o tapete debaixo dos pés empurrando-o do poder. Manuel Alegre, em tempo que não esqueço, tratou-nos abaixo de cão, com uma intolerável sobranceria sem qualquer abertura democrática, recusando debates leais. Nem respeitou a sua própria disciplina partidária, preferindo ver um adversário como Chefe de Estado a deixar o candidato do seu partido vencer. Qualquer deles só anunciam desgraça ou, na melhor das hipóteses, indiferença. O nosso futuro do que depender da presidência não se augura muito bom. Mário Soares, António Guterres, Mota Amaral seriam óptimos candidatos, do nosso ponto de vista. Mas, infelizmente, criou-se uma mentalidade baseada em ficções que vai levar a Belém aquilo de que o País e os Açores menos precisavam agora. Arrogância e prepotência. Um não lê os jornais e raramente se engana; o outro, bom poeta reconheça-se, mas duma teimosia e dum facciosismo intoleráveis. Em ambos, a cultura política é uma miragem, embora se perceba em ambos um sentido de oportunidade aceitáveis. Mas isso só é pouco para o nosso bem.
Carlos Melo Bento
2010-03-30