quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Olimpicamente

Causou emoção, a delegação de S. Tomé e Príncipe, o pequeno arquipélago filho da expansão portuguesa, no cortejo inaugural dos Jogos Olímpicos chineses. Não sei se os sãotomenses terão alguma medalha mas isso também não é a questão mais importante porque também não ignoramos os diversos esquemas que levam estes e aqueles ao ouro. A questão está em poder ou não competir-se com autonomia própria nesses famosos jogos. A Bermuda, pequena ilha de 70 mil habitantes, tem um Comité Olímpico. Nós temos de nos contentar em saber que o filho do antigo secretário regional, homem do Pico, entra na vela e que a Benfeito, micaelense do Canadá, entra não sei em que modalidade. Parece que somos um povo de empréstimo que é e não é, nem deixa de ser e não ser. O judo tem aqui participantes de luxo. Nos desportos marítimos temos por obrigação gerar campeões. Mas para que serve se, quando representam Portugal são portugueses, quando representam os países da emigração são apenas descendentes de açorianos? Quer dizer, se um açoriano quiser ser gente tem de sair daqui. No desporto ou na ciência (veja-se o Craig Melo no Nobel) ou seja em que for. Não acham isso estranho? Já não será tempo de pensarmos em nós? De sermos nós próprios aqui? Com vetos ou sem vetos, temos que ser açorianos. Não de arribada ou de passagem. Açorianos mesmo. Será que em minha vida ainda verei a delegação açoriana participar orgulhosa no cortejo olímpico? Se perdermos as medalhas não seremos os únicos nem os últimos.
Carlos Melo Bento
2008-08-12

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