segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Arqueologia Ribeiragrandense

Entre os inúmeros papeis manuscritos de Sousa de Oliveira que estou tentando pôr em ordem para estudo e publicação sistemática, encontrei esta curiosa nota: “ Como se malograram as escavações arqueológicas na cidade da Ribeira Grande/Meu Projecto: 1) Largo da Ermida de Santo André;/ 2) Terras do Antigo Mosteiro de Jesus; 3) Imediações/ da Igreja Paroquial da Ribeira Seca”, segue-se a sua rubrica.

Não está datado, mas Ribeira Grande já é tratada como cidade e encontro referências a Outubro de 1988 em notas de materiais encontrados no Mosteiro de Jesus onde acabou por fazer escavações científicas e um pedaço do diário de escavações que ele sempre meticulosamente elaborava cujo resto ainda não encontrei.

Não resisto a transcrever .”19 de Setembro de 1988/Bom tempo. Sol Brilhante. Calor e humidade/Entrega de um comunicado da Associação Arqueológica do Arquipélago dos Açores, mencionando a abertura da “Estação Arqueológica das Terras do Mosteiro de Jesus” na cidade da Ribeira Grande./Com alunos do Curso de Iniciação ao estudo das Novas Técnicas Arqueológicas, saí de/ Ponta Delgada, às 10h00, acompanhado pelo Presidente da Câmara Municipal, numa “station” posta à nossa disposição e conduzida pelo próprio Presidente./Fiz a escolha dos utensílios(Picaretas, pás, cestos, sachos, escada) na Repartição de Obras camarárias e dei instruções aos dois trabalhadores que foram destacados hoje para a limpeza do local onde, a partir de amanhã daremos começo à escavação sistemática da zona por mim assinalada no terreno da propriedade pertencente à Misericórdia da Ribeira Grande, a qual fica situada no actual Campo das freiras./Dei indicações ao Dr.Mário Moura, Director da Casa da Cultura da Ribeira Grande,/fiquei a saber que a área do antigo Mosteiro de Jesus se estendia para além da/ área onde ainda se vê a “Roda” no recinto ocupado recentemente por uma /garagem. Na Casa da Cultura da Ribeira Grande (edifício situado na Rua (em branco) está presentemente a fonte e tanques retirados do quintal de uma/ Casa situada no Campo das Freiras./O Sr.José Teixeira Gaipo disse-me que mais ou menos na parte central/da propriedade havia um muro, junto do qual se detectaram ossadas humanas/Na construção degradada (recinto em frente do portão de entrada) decidi mandar abrir uma vala de sondagem, que implicará a quebra de parte/do ci/mento que reveste o chão deste recinto.”

Por este naco de prosa se pode depreender o método e o rigor que Sousa de Oliveira emprestava aos trabalhos que aparecerão em toda a sua extensão quando conseguir publicar a sua obra completa assim me ajudem os deuses deste mundo e do outro.

Reuni em pasta própria todos os manuscritos que encontrei referentes á Ribeira Grande e é deles que vou retirar, em aguarela, um ou outro apontamento para que o leitor possa visualizar a fascinante técnica de trabalho do Mestre.
“Mosteiro de Jesus de Religiosas de Santa Clara, da Regra, e obediência de São Francisco; fundou-o em suas próprias casas Pedro Rodrigues da Câmara com sua mulher D.Maria de Bettencourt no ano de 1545, e depois o aumentou em muito seu filho Henrique Bettencourt e Sá.”

“Propriedade: Convento de Jesus. 222 ares e 64 centiares (vinte e três alqueires de terra com casas altas e baixas, telhadas na frente e uma torre, com suas pertenças, com água dentro e ares e mais encanamentos que a conduzem, livre, sita no Campo das Freiras, da vila da Ribeira grande. Venda feita com toda a pedra existente no mesmo prédio”

Continuarei.
Ponta Delgada 24 de Outubro de 2002
Carlos Melo Bento

MANUEL JACINTO DA PONTE, pedagogo, republicano e autonomista

Conferência proferida nas I Jornadas de Toponímia
De Ponta Delgada, integrada no Painel III, Autonomia e Autonomistas na Toponímia, em 18 de Janeiro de 2005, no Centro Municipal de Cultura


O cortejo saiu da Rua Ernesto do Canto. O clima era de festa. A Câmara Nova estava então instalada no Palácio Canto, hoje Tribunal de Contas, e tratava-se de prestar homenagem a um dos autonomistas de 1895, há um ano falecido.

À frente, iam os Bombeiros, seguidos pelos meninos das escolas oficiais e particulares. Depois, iam os professores e alunos da Escola de Desenho Industrial; logo depois os professores da Escola Normal Primária e os da Escola Primária Superior. De seguida, os do Liceu e acompanhados da Academia com o seu estandarte. Aparecia então a Imprensa de Ponta Delgada que antecedia Sua Excelência o Senhor Governador do Distrito, Dr. Horácio Franco, o homem de Afonso Costa do Partido Democrático, no poder em Lisboa.

Aparecia então o Comandante militar da Ilha, acompanhado da oficialidade das unidades militares aqui estacionadas. E depois o Senhor Administrador do Concelho que se salientava entre os altos funcionários da Administração Pública. Seguia-se-lhes o Povo que em grande número quis associar-se à homenagem. Na cauda os Senhores Vereadores da senhora Câmara, encerrando o cortejo a Banda União Fraternal tocando o hino escolar.

Dirigiu o cortejo nem mais nem menos que o professor de dança e ginástica rítmica, formado em Paris, senhor Manuel Joaquim de Matos que o manteve ordeiramente organizado através da Rua Ernesto do Canto, Largo de Camões, Rua João Chagas, hoje novamente dos Mercadores, Largo da Matriz, Nascente e Norte subindo a Rua António José de Almeida, Machado dos Santos, chegando a horas ao pequeno Largo norte da Rua da Fonte Velha prestes a mudar de nome. Ali, estava construída uma tribuna de madeira engalanada de flores onde se podia ver uma bem trabalhada pedra de mármore com os dizeres - Rua Manoel Jacinto da Ponte -.

Aguardava o cortejo o senhor Albano da Ponte, filho do homenageado e a restante Família. Acomodada toda a gente, usaram então da palavra o vice presidente da Câmara Municipal em exercício, o Dr. Horácio Pinheiro, seguido pelo Inspector Escolar Senhor Manuel Moniz Morgado e finalmente o Governador Civil que descerrou a placa até aí coberta pela bandeira nacional ao som do Hino Nacional que a União executou na perfeição.

Referiram-se os oradores ao Mestre e ao Amigo na Rua onde este ensinara tantas e tantas gerações de micaelenses. Foi isto num Domingo dia 17 de Dezembro de 1922.

Quem é este Homem a quem Ponta Delgada concedeu a subida honra de atribuir o nome a uma das ruas mais centrais da sua multissecular cidade?

Nascera no século anterior na freguesia da Maia e definia-se a si próprio como “cristão, nessa fé tenho vivido e sob ela morrerei; fervoroso discípulo de Jesus, admirador e amante das dulcíssimas lições do cristianismo, onde reside a felicidade do homem e da Família e o bem estar de todos os povos do mundo”.

Mas, segundo ele próprio, não era um homem público, era um mestre escolar. “Soldado raso tenho sido sou e serei. Não tenho antepassados ilustres nem ilustríssimos. Sou menos ignorante que eles o foram mas tão obscuro como eles.”

Era republicano ainda do tempo do regime monárquico, pois que colaborou no República Federal com João Oliveira Raposo e foi Presidente da Comissão Executiva do Partido Republicano Liberal. E bastantes problemas sofreu por isso; professor do ensino particular, perdeu alunos e amizades por causa das suas ideias.

Não obstante, até o Visconde da Praia o quis contratar com avultada avença que teve de rejeitar para poder manter a liberdade de pensamento. A mesma que o levou a militar activamente no Movimento Autonomista de 93/95, ombreando com Aristides da Mota, Fonte Bela, Pereira Ataíde e Mont’Alverne. Depois da vitória, foi eleito para a primeira Junta Geral Autónoma, como Procurador de Ponta Delgada.

Ele foi a prova viva de que aquele Movimento não constituiu uma manifestação da classe dominante mas a expressão mais profunda do sentimento das pessoas inteligentes e cultas da Nossa Terra que não aceitam tutelas seja de quem for.

Deixou um legado para se fazer um Hospital na Maia e a Comissão encarregada de concretizar esse desejo mandou realizar naquela freguesia solenes exéquias por sua morte.

A Câmara Municipal de Ponta Delgada em 3 de Abril de 1922 deliberou “Deferindo um pedido que lhe fora feito por grande número de Munícipes , resolveu associar-se aquela homenagem dando à Rua da Fonte Velha o nome do prestante cidadão senhor Manuel Jacinto da Ponte, devendo comunicar-se esta sua resolução à sua viúva e filho”.

Essa Rua conhecida popularmente por Rua da Loiça e antes por Rua da Fonte Velha, excepto a parte sul que se chamava Travessa do Tanque, foi escolhida por ali ter tido ele a sua prestigiada Escola mas eu não resisto a lembrar um velho ditado popular desta Terra que se dizia quando aparecia algum emproado forasteiro de pêlo na venta, a querer mandar em nós: ”Este ainda não bebeu água da Fonte Velha...” o que, bem entendido, queria dizer que quando ele a bebia, perdia a proa e entrava nos varais. Alguém saberá onde pára essa Fonte?...
Carlos Melo Bento
2005-01-18

Os Dez Mais de 2007

Dez mais 2007

O jornalista de opinião que se destaca pela coragem, estilo contundente e temas importantes foi Jorge do Nascimento Cabral. Sem esquecer Carlos Tomé nem Daniel de Sá, a escritora, é Paula Lima com a Crónica dos Senhores do Lenho, pela serena beleza que captou da alma e da Terra. Na política, Ricardo Rodrigues cujo profícuo trabalho incessante, e de qualidade, o alçou ao lugar de influente político. Como empresários, é justo escolher, ex aequo, Primitivo Marques e a Casa Bensaúde, pelas iniciativas corajosas e poderosas, admiráveis pela imagem positivamente dinâmica que dão do nosso mercado. Como cientista, voto na doutora Luísa Mota Vieira, cujo trabalho rigoroso e valioso na histologia e na química ocupam um espaço de admiração e respeito, tão raro. Isto sem esquecer o doutor João Paulo Barreiros, no campo da biologia marinha cuja obra inovadora prestigia a ciência. Nas artes, elejo, Luís de Bettencourt, autor, compositor e intérprete cuja obra se impôs, quase sem discussão. No desporto, homenageio Dinarte do Couto, que aos 47 anos, em plena prova de atletismo, terminou a carreira e perdeu a saúde para sempre. O acontecimento do ano é a publicação do Vulcão dos Capelinhos-Memórias 1957-2007, monumento que espanta pela dimensão e qualidade. O autarca foi Rui Melo que colocou a Vila acima da sua carreira. A figura do ano é o general Rui Mendonça que disciplinada e diplomaticamente vem unindo as pessoas à volta de ideais superiores.
Carlos Melo Bento
2007-12-18

Os Dez Mais de 2007

O jornalista de opinião que se destaca pela coragem, estilo contundente e temas importantes foi Jorge do Nascimento Cabral. Sem esquecer Carlos Tomé nem Daniel de Sá, a escritora, é Paula Lima com a Crónica dos Senhores do Lenho, pela serena beleza que captou da alma e da Terra. Na política, Ricardo Rodrigues cujo profícuo trabalho incessante, e de qualidade, o alçou ao lugar de influente político. Como empresários, é justo escolher, ex aequo, Primitivo Marques e a Casa Bensaúde, pelas iniciativas corajosas e poderosas, admiráveis pela imagem positivamente dinâmica que dão do nosso mercado. Como cientista, voto na doutora Luísa Mota Vieira, cujo trabalho rigoroso e valioso na histologia e na química ocupam um espaço de admiração e respeito, tão raro. Isto sem esquecer o doutor João Paulo Barreiros, no campo da biologia marinha cuja obra inovadora prestigia a ciência. Nas artes, elejo, Luís de Bettencourt, autor, compositor e intérprete cuja obra se impôs, quase sem discussão. No desporto, homenageio Dinarte do Couto, que aos 47 anos, em plena prova de atletismo, terminou a carreira e perdeu a saúde para sempre. O acontecimento do ano é a publicação do Vulcão dos Capelinhos-Memórias 1957-2007, monumento que espanta pela dimensão e qualidade. O autarca foi Rui Melo que colocou a Vila acima da sua carreira. A figura do ano é o general Rui Mendonça que disciplinada e diplomaticamente vem unindo as pessoas à volta de ideais superiores.
Carlos Melo Bento
2007-12-18

domingo, 30 de dezembro de 2007

O Maestro Francisco José Dias

Quase um ano antes de assassinarem no Terreiro do Paço, em Lisboa, el-rei D. Carlos e o príncipe real D. Luís Filipe, nasceu Francisco José Dias numa proeminente família da soalheira freguesia dos Mosteiros, a mais ocidental da ilha de S. Miguel, nos Açores, lugar maioritariamente de pescadores e camponeses.

Seu avô materno, Manuel Arruda Simões, era ali professor do ensino básico, regente de filarmónicas
e organista apreciado, enquanto que seu pai, Manuel José Dias regressara do Brasil alguns anos antes, ainda a tempo de assistir à histórica e deslumbrante visita daquele rei e de sua mulher a rainha D. Amélia, às nossas ilhas, e partilhar com os irmãos a vasta propriedade rústica que lhe coube por inteiro em partilhas e lhe transformou a vida para sempre.

Manuel José fora clandestinamente para terras de Santa Cruz com 18 anos de idade e lá esteve dez anos. Regressado aos Açores, nos Mosteiros, enamora-se e casa com a filha do professor Simões, Maria da Conceição, de quem terá quatro filhos: a mais velha, Carolina, casaria com o sargento Luís dos Reis, jovem que, apesar de possuir o curso dos liceus completo, como muitos outros micaelenses, nunca quis sair da sua terra pelo que não chegou a oficial do exército, embora seu filho Diamantino viesse a ser mais tarde, professor dos Pupilos do Exército.

O ambiente familiar em que cresce e vive é de todo ligado à música. O irmão de sua mãe, Manuel Arruda Dias, fundaria nos Estados Unidos a famosa e importante banda de Santo António de Fall River que o nosso maestro vai apoiar em 1975, aquando da sua digressão a esta ilha pelas Festas do Senhor. O tio Manuel tinha 6 filhos, todos músicos, e as filhas cantavam e tocavam viola, sendo que os serões em casa do avô, numa terra sem electricidade e sem rádio, eram o fascínio de todos, marcando-os com o seu irresistível encantamento.

O segundo filho, foi Francisco José de que vamos falar hoje; o terceiro teve o nome do pai e nasceu um ano antes de rebentar a Grande Guerra. O quarto, Basílio, nasceu um ano depois daquela catástrofe e hoje felizmente vivo, guardião e defensor dos tesouros culturais da família, a cuja amizade devo as principais informações que permitiram esta despretensiosa exposição.

A família Dias, viveu nos Mosteiros até 1926, ano em que se instalam todos na Rua do Amorim, em Ponta Delgada e aqui deram conta da Revolução Nacional que em 28 de Maio iria instalar a Ditadura Militar de cujo seio brotou o Estado Novo, em 1933 e que duraria até 25 de Abril de 1974. O Marechal Gomes da Costa que chefiou de Braga o golpe militar, e foi depois exilado para esta ilha onde residiu alguns anos, certamente se cruzou nas ruas da cidade com os Dias, pois aquele herói da Flandres foi estimado entre nós.

Filho de seu pai, Francisco José, à volta dos 18 anos, tentou fugir clandestinamente para o Brasil. Com efeito, nessa altura, ele estudava em Ponta Delgada na Escola Normal Superior, onde forjou a ideia aventureira que já havia inspirado o progenitor. Todavia, Manuel Dias contava com bons amigos que denunciaram o intento do seu rapaz mais velho e veio a mata cavalos buscá-lo à cidade pela orelha, mal sabendo que esse puxão iria mudar para sempre a história da música açoriana.

Naquela Escola, Francisco José foi aluno do jurista Francisco Luís Tavares, o primeiro Governador Civil da República, pelo partido de António José de Almeida e é naquela prestigiada instituição, então de ensino médio, que o nosso biografado vai sentir a irresistível vocação para a música.

Contrariado nos seus intentos e não se sentindo inclinado a seguir a carreira do avô materno, como mestre escola, Francisco, num daqueles arrebatamentos que sempre o caracterizaram, e convencido por seu primo, o Sargento Simão Inácio da Costa,[1] apresenta-se como voluntário no quartel de Infantaria 26, a S. João, onde é hoje o Teatro Micaelense e antes fora, durante séculos, o Convento daquela invocação que os liberais extinguiram no século XIX.

Seu pai, contrariado embora, teve que ceder. Francisco tem nessa altura 19 anos, pois estamos no ano de 1926…o mesmo ano em que saíram dos Mosteiros, instalando-se os Dias na cidade[2]. Francisco José inicia nessa altura a sua carreira musical naquela que era então a mais importante escola musical dos Açores, a Banda Regimental.

Devido às suas habilitações e habilidade, rapidamente chega a Sub Chefe dessa Banda do Exército e a sua carreira como militar músico apresenta-se muito promissora. Na verdade, no fim de 1926, é 2.° Sargento músico de 3.ª classe, nos instrumentos de flauta e flautim, passando em 1928, a 2° sargento de 2.ª classe, e é colocado em Pinhel, onde começa a compor as suas primeiras obras.

De regresso aos Açores, em 1933, é promovido a 1º sargento e colocado em Angra do Heroísmo, onde estuda Harmonia e outras disciplinas com o capitão António Piedade Vaz e o famoso padre Tomás Borba, aqui compondo, em 1935, o seu Andante Religioso que dedicou a António Costa. É na ilha de Jesus Cristo, já casado com Maria Ilídia Fernandes Dias, que lhes nasce o primeiro filho, Francisco José Dias Júnior, que mais tarde emigraria para os Estados Unidos onde deixou geração. O seu segundo filho, Alcides, seria militar como ele e faleceria como coronel já neste século deixando duas filhas e um filho, que não vivem nos Açores.

Em 1935, é promovido a sargento-ajudante subchefe de banda e colocado em Ponta Delgada[3], e em 1936/37 frequenta o curso superior de música em Portalegre. É desta cidade alentejana a composição que intitula Lied e que dedica ao que considera o seu querido mestre, Capitão José Maria Cordeiro.

Eis senão quando, os fados lhe vão ser contrários. É que, as nuvens e os tambores da guerra desciam e rufavam sobre a Europa, e a Espanha debatia-se na mais sangrenta guerra civil da sua História. Em Portugal, alguém (parece que Humberto Delgado) convenceu o governo que “eram precisos mais canhões e menos trombones” e as 32 bandas regimentais do país ficaram reduzidas a 8!

Essa extinção de bandas militares, em 1937, contrariaria o seu objectivo pessoal – a promoção a oficial chefe de banda -, patamar que só consegue alcançar em 1958, o que vai constituir o maior desgosto da sua carreira.

Não ficou porém quieto nem indiferente à sua Terra bem amada [4], e na São Miguel natal, em 1943 compõe Alma Minha Gentil, Que Te Partiste e Pátria Nova, para orfeão, faz parte da comissão para a reabertura da Academia Musical de Ponta Delgada, promove, nas festas do 4º centenário da cidade de Ponta Delgada, em 1946, a reunião de mais de mil músicos no Campo de S. Francisco, que rege na execução do hino do Senhor Santo Cristo, obra imortal desse genial compositor que foi Manuel José Candeias, terceirense que, segundo ensina o Maestro Dias, foi regente das Bandas de Caçadores 11 em 1869, neste cidade e da de Caçadores 10 em Angra do Heroísmo, em 1901. Isto para além do hino do Senhor Espírito Santo, e outras composições. Organiza uma orquestra sinfónica, e em 31 de Março de 1951 dirige o concerto de ópera com que se inaugurou o novo Teatro Micaelense com coro misto e orquestra da Academia Musical e uma grande parada de 26 filarmónicas, com cerca de 1.500 executantes.

Em 1959 é colocado no Funchal onde esteve sem a família, como Chefe da Banda Militar, desempenhando também as funções de professor na Escola do Magistério Primário e Liceu Jaime Moniz. Ensaiou e regeu vários grupos corais, colaborou com o Orfeão Madeirense e foi chefe da Banda-Filarmónica Municipal do Funchal, deixando grandes marchas de homenagem ao grupos por onde passava[5].

Em 1961 regressa de novo a S. Miguel, dando continuidade a concertos culturais e às suas composições, levando-as a todas as ilhas, e ensinando Educação Musical no Liceu Antero de Quental, onde ficaram famosos os coros que reunia e regia.

Em 1967, parte para os Estados Unidos, para junto do filho mais velho e aqui permanece até 1972, exercendo várias funções artísticas: funda a Banda de Nossa Senhora do Rosário em Fox- Point, subúrbios de Providence, é professor, é maestro de diversas filarmónicas e orquestras, que interpretam e executam várias obras da sua autoria. É deste período (1969) que compõe em Providence, Sapateando n.1. e vê uma das suas composições, A Saudade, interpretada em Nova York no Guggenheim Memorial Concerts, sob a direcção de Richard Goldman, corria o ano de 1967, havendo outras bandas daquele país, que incluíram nos seus programas, obras da sua autoria. Depois da Goldman Band, e da Leihigh University Band, de Bethlehem (Pensylvannia) esta sob a regência do Maestro Jonathan Elkus, tem-se visto o compositor açoriano incluído, nalgumas das suas mais notáveis criações, como «números de honra» e em programas especiais. Com os Maestros Albertus Meyers e Keith Wilson, assistiu Francisco José Dias, no Broughel Junior High School Auditorium, em Bethlehem, à apresentação do seu poema sinfónico «Saudade», dirigido por David Hughes. Algumas das suas composições encontram-se registadas pela Library of Congress Copyright Office, dos Estados Unidos da América em cujos meios musicais é muito conhecido.


Aliás, a sua música tem sido executada por outras bandas militares e orquestras portuguesas e estrangeiras, de que se destaca a música gravada em disco, interpretada pela Banda da Força Aérea Portuguesa com marchas militares e poemas sinfónicos da sua autoria.

Do vasto reportório escrito para coro, piano, orquestra de câmara, orquestra sinfónica e bandas, sobrelevam os poemas sinfónicos "Pôr-do-Sol", poema sinfónico para orquestra, "É Crime se Não Voltares", “Momento Trágico" também poemas sinfónicos, “Capricho Sinfónico", e a "Saudade" que compôs para orfeão a 6 vozes.

Como escritor, são dele várias críticas musicais em jornais açorianos e, em livro, uma das suas conferências, "Música - Um Mistério Divino" interessante sinopse da história da música[6] e as famosas "Cantigas do Povo dos Açores", um monumental trabalho de recolha do folclore açoriano, livro póstumo, editado em 1981, pelo Instituto Açoriano de Cultura, em homenagem ao seu destacado sócio, e que constituem um trabalho exaustivo de recolha do folclore açoriano, esforço individual, sem auxílio de ninguém, como também aconteceu no decurso de toda a sua vida profissional e artística, lutando sozinho contra os efeitos da insularidade. Durante mais de 40 anos reuniu 185 canções populares, escritas e comentadas no relacionamento dos povoadores e suas origens com a população actual.

Recentemente, aquele prestigiado Instituto criou um extraordinário CD-ROM com esta obra onde além da leitura do texto se podem ouvir 191 músicas e consultar as partituras musicais e um estudo ilustrado sobre a viola da terra, todo um trabalho de grande qualidade coordenado e dirigido por Paulus Bruno e João Paulo Constâncio com a colaboração da Universidade Federal de Santa Catarina do Brasil coordenada pelo Arquitecto Roberto Tonera, num trabalho que honra o nosso povo e está à altura do devotado açoriano que foi Francisco José Dias.

Sublinho ainda a sua faceta de pedagogo, pois aproveitou sempre as oportunidades que lhe deram para falar em público, para ensinar ou explicar a música ou o mundo harmonioso aspiradp pela arte de Beethoven. Veja-se por exemplo o seu “Incitamento”, palestra dedicada aos atletas da Águia Azul, em que defende a “ordem, paz e progresso[7]. Nas suas ainda infelizmente inéditas mas preciosas, Breves Anotações Sobre Bandas Militares, despretensioso trabalho, diz ele, feito a pedido da Secção Cultural do Comando da Zona Militar dos Açores, colhi este ensinamento em que devemos meditar: deve-se às bandas militares a popularidade que tomou a música em S. Miguel, elas criaram no Povo o apreço da música evoluída, por meio de concertos semanais, regulados pela cuidadosa selecção dos programas... marchando à frente dos soldados, ensinaram as filarmónicas a acompanharem as procissões e outros actos que requeriam animação. Esta importante obra do Maestro Dias, precisa urgentemente de ser publicada, pois contem uma preciosa e insubstituível achega para a história cultural do nosso povo.

Como vimos, depois de completar os seus estudos de Harmonia, Instrumentação, Acústica, História da Música, Contraponto e Fuga, dedicou-se à composição, tendo escrito diversas obras do género ligeiro e sinfónico, para Banda e Orquestra, por tudo isso há hoje quem o considere, a par de Francisco Lacerda e Tomás Borba, um dos grandes compositores de música erudita açoriana.

A sua obra de composição que consta de 42 trabalhos para banda e orquestra, 23 para coro, 38 de música de Câmara e 6 de piano, tem sido executada por bandas militares portuguesas e estrangeiras e incluídas no reportório da Banda da Guarda Nacional Republicana e da Banda da Força Aérea Portuguesa que, sob a regência do Capitão Silvério de Campos, como já disse, gravou em disco marchas militares e poemas sinfónicos da sua autoria que precisam ser trazidos para o mundo digital para que os mais jovens conheçam directamente um dos maiores valores culturais açorianos.

Quase todas as suas composições estão registadas na Sociedade de Autores e Compositores Portugueses, destacando-se os poemas Sinfónicos «Pôr-do-Sol», «É crime se Não Voltares», «Momento Trágico», «Capricho Sinfónico», «Saudade», como números de maior profundidade, a par de composições ligeiras, Lieds ou canções.

Francisco José Dias musicou também numerosos poemas da autoria de poetas açorianos e, inspirando-se em temas populares, compôs algumas das suas apreciadas obras. Contam-se, neste caso, os poemas sinfónicos «Olhos Pretos», «Meu Bem», «Saudade», etc., para piano e para orquestra.

Tirei das suas ideias, três frases com que quero terminar a invocação do grande compositor açoriano que me parecem tão actuais:

“O canto conjunto incendeia as almas”

“A boa música constitui um baluarte defensivo que muito importa para a formação do espírito”.

“A música é um dos meios para a elevação espiritual do homem,


meio seguro para atingir-se o aperfeiçoamento da sociedade. Não pode nunca a música servir a baixa moral destruidora de virtudes, mas sim ajudar a purificar as almas”[8].

A morte surpreendeu-o em Lisboa, no Hospital Militar da Estrela, em 27 de Novembro de 1980, e o seu corpo, por sua vontade expressa, foi trasladado para a ilha de S. Miguel, e sepultado no cemitério da freguesia de Mosteiros[9] de onde contempla (se é verdade que a alma não morre), os mais belos pôr de sóis que Deus proporcionou ao Homem.

Temos ouvido aqui hoje a bela música que a Banda Militar dos Açores executa sob a segura direcção do Maestro e Compositor Lopes Coelho cuja carreira académica e militar honra os pergaminhos do mais prestigiado corpo musical do arquipélago e o solista Marco Torre que desde tenra idade se dedica à arte que encantou Francisco José Dias e cujas capacidade e juventude nos permitem augurar uma sólida contribuição para o progresso da música no nosso País marcada que está já a sua presença entre nós por inegável virtuosismo.

A maior homenagem que se pode prestar a um compositor é ouvir-lhe a obra. Faço votos para que estas minhas fracas palavras tenham o condão de vos fazer saborear com enlevo a obra do mestre.
Carlos Melo Bento
Ponta Delgada, 28 de Abril de 2007

Bibliografia do Maestro Francisco José Dias

-Filarmónicas da Ilha de São Miguel- J. M. Cabral[10]
-Cantigas do Povo dos Açores - Ten F. J. Dias
-Apontamentos sobre Bandas Militares nos Açores - Ten F.J.Dias -História dos Açores (Coletânea de documentos) SREC 1979 -Sr. Basílio José Dias
-Sr. Dr Luís Rodrigues
Tenente Francisco José Dias> compositor> professor> crítico musical> coralista> etc, foi Subchefe em 1935/37, 1939/42> 1950/54> 1957/58 e Chefe em 1958/59 e 1961/67.
[1] Que chegaria a capitão e a comandar a PSP em Macau.
[2] Primeiro na Rua do Amorim, depois no Canto da Fontinha, a seguir na Rua Coronel Miranda e finalmente na Rua de Lisboa e só nesta última se separou da Família paterna. Os verões passava -os nos Mosteiros, ou na casa do sogro, na Banda de Além ou na do pai, à Igreja.
[3] Aqui é-lhe sugerido pelo Comandante Weekes, da Marinha Mercante americana e que o viu reger com mestria, no Campo de S. Francisco, a Banda Militar, a ida para a América, onde lhe augurava futuro e fama, possibilidade que não se concretizou por várias razões.
[4] “Ser útil à minha terra que adoro, é o que pretendo”, in Cantigas do Povo dos Açores, p.14.
[5] Esta ida para o Funchal deveu-se a alguma intriga promovida por alguém que pôs em dúvida as suas capacidades de regente e, quando foi a Lisboa fazer parte dum júri de exames para chefes de banda, foi substituído por colega a quem o General Dário de Oliveira preferiu. Regressado da Madeira foi-lhe restituída a regência.
[6] Esta conferência foi proferida no Liceu Nacional de Ponta Delgada, em 22 de Fevereiro de 1967 e, com algumas alterações de pormenor, no Externato da Ribeira Grande em 27 do mês seguinte; a primeira a convite da Associação Católica dirigida pelo Reverendo Padre José Joaquim Rebelo, professor de Moral e Educação Cívica naquele estabelecimento de ensino, e na Ribeira Grande, a convite do professor de música Luís de Melo, apoiado pelo então já democrata Manuel Barbosa, figura de vulto na então vila-cidade, que ali manteve com alto nível, o único estabelecimento de ensino secundário que dirigia, tornando-se responsável pelas carreiras universitárias da juventude que educou e que muito contribuíram mais tarde para o desenvolvimento cultural dos Açores.
[7] Esta palestra, que não está publicada e o original, infelizmente, está incompleto, traduz o espírito nacionalista, predominante na época (Outubro de 1939).
[8] In, Música um Mistério Divino, 1967, p.30.
[9] V. nota biográfica no verso do disco LP vinil “Pôr do Sol” pela Banda da Força Aérea.
[10] Esta obra foi inspirada a Joaquim Maria Cabral, sogro de seu irmão Basílio, pelo Maestro Francisco José Dias, pois aquele e Carlos Pacheco muito ajudaram a União Fraternal, a filarmónica da antiga Rua da Canada, cuja varanda da sede (oferecida por este último) ainda ostenta as primeiras notas do seu hino.

A Ribeira Chã Freguesia Museu

Apresentação do livro por Carlos Melo Bento
Ribeira Chã 13.07.2007

Desafiado para apresentar A Ribeira Chã Freguesia Museu, bem iluminado livro de indisfarçáveis intuitos turísticos, não pude recusar, embora saiba que os meus dotes de divulgador da nossa História estão longe da perfeição. E isto porque me fascina encontrar cada um dos lugares que Frutuoso descreveu na sua geografia física e humana dos princípios do século XV ao XVI em que viveu e morreu. E estes convites, apesar de me atrasarem a vontade de publicar o 4º volume da minha romântica História dos Açores, obra pouco científica dum apaixonado pela aventura açoriana que, com um ou outro defeito, lá vai cumprindo a obrigação que em boa verdade deveria ser desempenhada por outrem com mais saber e obrigação que este sexagenário advogado, que labuta há mais de 40 anos por cumprir a justiça humana, “sem pervertimento, nem paixão guardar e fazer que a todos igualmente o direito, e justiça se guarde”[1].

Já que me pedem para dizer alguma coisa da história da Ribeira Chã, vou começar com Frutuoso e com as suas poucas mas preciosas informações sobre este museu vivo e são que teima em manter-se no mapa micaelense pela melhor das razões: a cultural.

A Ribeira Chã ou das Lagens ficava a um tiro de Falcão da Ribeira do Pisão e o caminho entre as duas fazia pelas rochas algumas voltas; era ela o termo poente de “Vila Franca do Campo / que de nobre precedia/ na ilha de S. Miguel/ a quantas vilas havia”[2]. A primeira pessoa que o nosso maior cronista regista como tendo escolhido esta freguesia (que ele diz situada junto de Água de Pau[3]) para residir, chamou-se Melchior Dias[4] que casou com uma filha de Isabel Nunes Velha, chamada Briolanja Cabral, sobrinha bisneta do nosso descobridor e povoador e primeiro capitão, Frei Gonçalo Velho Cabral, comendador de Almourol e senhor de Pias, valente guerreiro e corajoso homem do mar da casa do alto infante D. Henrique.

Melchior Dias era assim genro de Isabel Nunes Velha e de seu marido Fernão Vaz Pacheco um dos nossos primeiros povoadores, que, por sua vez era genro de Nuno Velho aquele sobrinho que Gonçalo Velho trouxe menino quando veio povoar Santa Maria e que depois passou a esta de S. Miguel cuja capitania o comendador pediu ao Infante lhe desse; mas o príncipe dos mares preferiu o outro sobrinho, João Soares de Albergaria que vivia perto dele. Se Nuno Velho veio para cá à volta de 1444, sua filha terá vivido cerca de 1466, e o genro desta, o nosso Melchior Dias, aí por 1486, poderemos pensar, enquanto não aparecerem outras provas que a Ribeira Chã já era povoada nesta altura.

Sabemos também que uma filha de Melchior e Briolanja, chamada Mécia Cabral casou com o licenciado Sebastião Pimentel, homem de muitas letras e virtudes de quem teve filhos. Este dr. Sebastião Pimentel era por sua vez filho do almoxarife de toda a ilha de S. Miguel, de seu nome Domingos Afonso Pimentel[5]. Certamente que esta gente esteve, residiu ou conviveu na Ribeira Chã.

Melchior Dias foi também pai de Fernão Vaz Pacheco que pelo menos o nome herdou de seu avô materno e que casou com Leonor Medeiros, neta de Lopo Anes de Araújo, o velho, rico e abastado, natural de Viana do Castelo onde era um dos principais e que chegou a S. Miguel à volta de 1506[6].

Leonor Medeiros era filha de António Furtado de Sousa, descendia dos nobres Correias, Sousas e Furtados da ilha da Madeira e era bisneto duma flamenga daquela ilha chamada Solanda Lopes.

Frutuoso, que como disse, morreu ainda no século XVI, fala ainda de Gaspar Dias da Ribeira Chã que pode ser parente do dito Melchior, genro de Luís Mendes Potas também conhecido por Luís Vaz de Lordêlo, o Potas. Aqueles tiveram três filhos, dois homens que foram para as Índias de Castela e uma filha chamada Crisóstoma de Lordêlo casada com Gonçalo Coelho filho de Gabriel Coelho que foi dono dum engenho de açúcar na Ribeira Seca de Vila Franca que lhe transmitiu o aludido Lopo Anes de Araújo. Daqui se pode concluir que no início do nosso povoamento todos se conheciam e estavam todos relacionados por sangue, pelos negócios ou por outras actividades menos nobres.

Mas há uma história passada com dois cunhados deste Gaspar Dias que não resisto a contar: estes jovens tinham sido injuriados por um Belchior Manuel, homem honrado, e, para se vingarem, fizeram-lhe uma espera na serra de Água de Pau, acabando, depois de forte luta por amarrá-lo. Queriam eles cortar-lhes as partes pudendas porque o acusavam de os ter injuriado por outro tanto. Este outro tanto o cronista não revela o que seja e eu nem me atrevo a tentar desvendá-lo para não ferir as vossas susceptibilidades. Mas se o pensaram não o conseguiram fazer pois foram impedidos de o fazer pela oportuna intervenção dum nobre amigo, que a história registou sob o nome de guerra de João Roiz Panelas de Pólvora e de quem se tinham feito acompanhar talvez para que servisse de testemunha qualificada das suas honras feridas; pelo que se limitaram a cortar-lhe as orelhas. O Belchior, porém, libertando-se das cordas que o amarravam, clamou até à cidade em altos berros por el-rei e conseguiu que o corregedor de sua Alteza, Francisco Toscano, fosse logo naquele dia à Ribeira Grande para os prender. Não se sabe o que aconteceu aos Potas, mas o Panelas de Pólvora, aproveitando o rebuliço das festas do Corpo de Deus que nesse dia ocorriam em Ponta Delgada, fugiu disfarçado de marinheiro para a Índia onde foi um grande herói e lá morreu com fama e proveito de muito necessário para o serviço real. E numa das naus em que este tentou resistir ao primeiro cerco de Diu, que o sultão nos impôs em 1537, estava um Belchior Mendes Potas, quem sabe, um dos atacantes da serra de Água de Pau[7].

Sabe-se que este Luís Mendes Potas era fidalgo, homem principal e da governança da Ribeira Grande e era casado com Clara Gregória filha de Gregório Roiz Teixeira que veio para S. Miguel poucos anos antes do Terramoto de Vila Franca que como é conhecido ocorreu em 1522, e sabe-se ainda que este Teixeira era parente de Tristão Vaz Teixeira, capitão de Machico na Madeira que ajudou a descobrir[8], gente honrada e de brasão[9].


Sabe-se também que no dia do dilúvio de Vila Franca, 22 de Outubro de 1522, morreram na Ribeira Chã ou das Lagens, 4 pessoas sepultadas nos escombros duma casa que ruiu[10].

Vizinho destes primeiros povoadores da freguesia museu foi um Pêro Vieira dos Vieiras da Ribeira Grande, amigos do Capitão Manuel da Câmara que limparam com engenhocas por si inventadas, as terras cobertas pelo cinzeiro de 1563. Este Pêro Vieira morava arriba do Pisão entre fresco arvoredo. O Pisão era um engenho de pisar o pastel que como se sabe foi uma das nossas primeiras e maiores riquezas trazidas da Flandres talvez por Guilherme da Silveira ou Jos Dutra do Faial. Os pisões eram movidos por água e geralmente encontravam-se junto de ribeiras muito inclinadas como acontece ao de Angra junto à Memória.

O livro que hoje é lançado, é como disse muito bem iluminado por fotos que se devem a Roberto de Medeiros e Paulino Oliveira de Foto Belarte e, se é certo que uma imagem vale mil palavras, temos que elas descrevem significativamente as belezas estonteantes desta parte da nossa ilha, o arrumo dos lugares públicos de lazer, a moldura do belo casario em presépio preguiçosamente estendido no formoso vale de frescas árvores, a história congelada em momentos roubados pela câmara escura à vida real. Os cultos religiosos que sobreviveram aos séculos da nossa ocupação, o aparecimento da pintura mural do século vinte nos Açores pela mão rigorosa, hábil e sábia de Tomás Borba Vieira, o pintor que soube sobrepor a beleza serena e calma, ao burburinho da turbulenta técnica dos ismos anárquicos que se instalou nas escolas de pintura europeias. A cada dia que passa a sua obra torna-se mais compreensível e encantadora, absorvendo consensos onde antes não os havia. O seu trabalho de serena beleza desliza pelas bem assombradas paredes da nova igreja e serve de símbolo à freguesia modelo que em tempos bem conservadores conseguiu dar um salto para a modernidade
sem perder identidade.

Mas o livro que anuncio tem mais. Guiando o leitor pelos endemismos e pelas indústrias agrícolas do passado vai ensinando os caminhos do espaço paroquial reservado aos visitantes. O rico artesanato micaelense tem aqui o digno pedestal, dele ressaltando a famosa gastronomia lagense. E tudo se acaba com a reconstituição dum espaço íntimo no interior duma casa típica cuja composição faz sonhar com mulheres rendeiras e bordadeiras e artistas de luxo na marcenaria de mistura com comércios da estranja com música de fundo arrancado duma viola da terra que o tocador ali deixou para lembrar que nós de tristes só temos o nome e a saudade. O ponto final é colocado habilmente com uma visão parcelar da estátua do Padre João Caetano Flores da autoria de Mestre Álvaro França, o maior escultor açoriano vivo que ali conseguiu gravar no bronze a destemida e imparável bondade do grande impulsionador da Ribeira Chã moderna. Miranda Amaral e Cristina Decq Mota fizeram o texto sintético e de fácil leitura. Rui Goulart concebeu e conduziu o design. O livro é um bom motor de arranque para uma campanha de dinamização turística que se quer vencedora na arte de mostrar, preservando, tudo aquilo que temos de bom, ganhando alguma coisa com isso, claro está. Por tudo isto está de parabéns esta dinâmica freguesia cuja presidente é justo salientar como responsável pela obra hoje lançada ao grande público e, como todo o ser gerado, irá ter vida própria rodeado de elogios e críticas e, quem sabe, em futuras edições sujeito aos aperfeiçoamentos que o tempo for aconselhando. Senhora Presidente, o seu currículo fala por si e explica que uma vida dedicada ao bem público e prenhe de estudos e obras em favor dos semelhantes que com coragem tomou a seu cargo, permita coordenar e compor uma obra que muito ajudará o viandante a compreender a nossa maneira de ser e o nosso melhor. E num tempo em que tão facilmente se desmerece naqueles que se dedicam como a senhora de alma e coração à coisa pública, sabe bem felicitá-la publicamente pela obra produzida de que este livro serve de símbolo. Bem haja por tudo isso e obrigado a todos pela paciência com que me escutaram.
Carlos Melo Bento
2007-07-13
[1] Ordenações Manuelinas, Livro I, p.1 da ed da F.C.G. de 1984.
[2] Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, livº. IV, vol. II p.148, ed.1926.
[3] Saudades da Terra, livº. IV, vol. I p.28 ed.1926.
[4] Frutuoso também o coloca com morada no Porto Formoso, id.ib.30.
[5] Id. P.151.
[6] Id. P.195.
[7] Id. Vol. II, p.195
[8] Id. Vol. I, p. 217.
[9] Id. P. 236.
[10] Id. Vol. II, p. 138.

Um Picoense em S. Miguel no Século XVIII

Conferência proferida por Carlos Melo Bento, no Centro Cultural de Santa Cruz, da ilha Graciosa, em Agosto de 2004, integrada no 5º Encontro dos Genealogistas dos Açores

Fenais da Vera Cruz, Fenais da Maia, Fenais de Cima, Fenais da Chada, eis os vários nomes que se podem ler nos registos paroquiais da freguesia dos Santos Reis Magos nos anos setecentos do segundo milénio da nossa era. Afinal, hoje conhecidos oficialmente por freguesia dos Fenais da Ajuda. Situada na costa norte da Ilha de S.Miguel, entre a cidade da Ribeira Grande e a Vila do Nordeste, mais precisamente entre as Lombas da Maia e de S.Pedro, encostada a nascente à Achadinha, freguesia de Nossa Senhora do Rosário e a poente à Maia, freguesia do Espírito Santo. Parece difícil mas não é.

Então porquê Fenais da Ajuda? Bom, porque para simplificar as coisas, foi ali mandada construir uma ermida de invocação de Nossa Senhora da Ajuda, em cujo lugar se ergueu depois um convento de franciscanos com a mesma invocação. Quer dizer que os religiosos de S.Francisco construiram, ao lado daquela ermida, uma igreja de Nossa Senhora da Ajuda[1]. Frei Agostinho de Monte Alverne[2] escreveu nos princípios do século XVII: -”A freguesia dos Fenais que é dos Reis Magos, tem vigário cura e tesoureiro, com 204 fogos, e 753 pessoas, com uma ermida de Nossa Senhora da Ajuda, em que está fundado um convento”. Este convento foi criado a pedido do mercador Lázaro Roiz Estrela e de sua mulher Maria Francisca, da então vila da Ribeira Grande e foi aprovado em capítulo provincial de Angra em 1681, ano em que foi colocada a primeira pedra; três lustros depois, foi feito guardiania e dois anos passados com missas cantadas, foi benzida a Igreja para onde transitou da ermida a imagem da Senhora, depois de exposta na paroquial, sempre solenemente transportada por quatro sacerdotes em andor bem ataviado que prepararam as freiras da Ribeira Grande onde o padroeiro tinha filhas. Teve o convento de início um custódio e dois companheiros, sendo um pregador e o outro corista. Também no princípio foi aceite para recoletos, e por justas razões se deu aos observantes.

O incontornável Frutuoso[3] explica que esse lugar dos Fenais se chama assim, porque em baixo, havia muitos fenos mesmo no século dezasseis. Hoje não sei, porque ainda não fui lá ver como o fez o sábio cronista na sua épica História dos Açores que jesuiticamente chamou de Saudades da Terra em oposição àquelas Saudades do Céu que agora escreve no outro mundo pois, a avaliar pelas primeiras, nada escreveu que não tenha observado pessoalmente...

Diz o doutor de Salamanca: ”Da parte do Oriente, está um guindaste do Capitão, pegado com a mesma ribeira (da Salga), e logo uma ponta muito grande que entra pelo mar, direito ao norte, quantidade de seis moios de terra, chamada ponta dos Fenais da Maia por diferença doutros Fenais da cidade”. E mais adiante,” da qual (Ribeira Funda) até à Ribeira da Salga...se estende a freguesia dos Fenais da Maia”.

Ainda de interesse para localizar geograficamente as pessoas de que vou falar, necessário é dizer-vos com o Padre Gaspar que o Capitão Rui Gonçalves da Câmara, filho segundo do Zarco, descobridor da Madeira, que governou S.Miguel de 1474 a 1497, era homem bem apessoado, grande e grosso, discreto e solicito em fazer cultivar e povoar a terra, visitando-a pessoalmente muitas vezes ( ele tinha o seu assento principal em Vila Franca do Campo, por ser então a única vila na Ilha), ia só, a cavalo, vestido com uma peliça de martas e uma touca na cabeça, como naquele tempo se costumava, e com um cão grande detrás de si, chamado Temido, sem trazer outros pagens consigo, dando ordem à sua gente que roçavam as (suas) terras...(designadamente a d)a Criação chamada assim porque criava nela seu gado perto dos Fenais da Chada, onde ele morava algum tempo, com sua mulher (D.Maria de Bettencourt ) e família.

Eis onde vai desenrolar-se parte da nossa história.

A outra passar-se-á na Ilha do Pico onde iremos depois. E tudo isto situado entre dois anos, no meio dos quais vou balizar este trabalho. Ou seja, 1763, data do nascimento do primeiro filho do picoense Francisco José, em S. Miguel, e 1789, ano em que casa a filha daquele, de que descendo.

Vejamos agora os personagens, por certo filhos ou netos dos revoltosos de 1695 que em tumulto baixaram à Ribeira Grande pela carestia de trigo que se deixava criminosamente exportar e que foram bastante castigados por D.José da Câmara, capitão e governador de S.Miguel, com ajuda de tropa que de fora mandou vir[4].

A família de meu avô materno, Carlos Augusto da Silva, a quem devo o meu primeiro nome, era do Nordeste; filho de Bonifácio José da Silva e neto de Francisco da Silva e de Rosa Jacinta, sendo que esta era filha de José da Silva e de Anna Maria. Nas genealogias ainda infelizmente inéditas de Carlos Machado que deu o nome ao Museu de Ponta Delgada, abaixo do nome daquela minha avó, lê-se, “do Pico”. Bom, não é verdade mas é uma pista. Vistos os documentos competentes, quem é do Pico é seu pai, Francisco José. Na verdade, ela nasceu “em os trinta dias do mês de Setembro de mil setecentos e sessenta e sete” e foi batizada em 5 de Outubro do mesmo ano, altura em que nasce o futuro rei D.João VI, governava os Açores D.Antão de Almada, o seu primeiro Governador Geral para aqui nomeado pelo despótico e iluminado Marquês de Pombal que para o efeito afastou os capitães dos donatários.

Voltemos à avó Anna Maria, que como Anna apenas foi batizada na paroquial igreja dos Santos Reis Magos do Lugar dos Fenais da Vera Cruz, pelo vice cura António Gonçalves, apadrinhada pelo Capitão Manuel Pacheco de Aragão, da Ribeira Grande e que, farto de ir aos Fenais apadrinhar os filhos do Francisco José, se deu ao trabalho de passar procuração ao Alferes Matheus de Medeiros. Madrinha foi Maria Josefa Pacheco filha famílias de Domingos Pacheco e de Rosa Cabeseiras, esta já falecida.

Neste termo começa uma das duplicidades que os reverendos criaram à volta do lugar do nascimento desse meu avô picaroto. Freguesia de Nossa Senhora do Rosário ou freguesia de Nossa Senhora da Ajuda. Enquanto procuramos a localização desta freguesia, vejamos nos outros termos que se referem ao dito Francisco José, o que dele se diz quanto ao lugar da sua origem. Ora, o primeiro documento que encontrei nas apertadas horas que o Arquivo Distrital de Ponta Delgada em S.Miguel nos disponibiliza, de Verão, diz respeito ao batizado do irmão mais velho daquela minha avó, de nome Manuel. Nele se reza que seu pai é filho familias de Francisco Cardoso Serpa e de Antónia Maria, naturais da paroquial de Nossa Senhora do Rosário da ilha do “Pyco”. Ali se revela que o neófito nasceu em 4 de Maio de 1763 e foi batizado a 11. Apesar do padrinho ter sido o licenciado Marco ou Mano ou Manuel Pacheco de Aragam, homem sui juris, a verdade é que o Manoel nasceu antes do casamento de seus pais ocorrido apenas em Agosto desse mesmo ano, facto que deve ter tido impacto escandaloso na vida local, já que os seus futuros cunhados eram nem mais nem menos de que João de Melo Afonso e sua mulher Donna Marianna Josefa, irmã da mãe do batizando, pois ambas eram filhas de Joam de Oliveira e de Maria Carreira, autores dum testamento de mão comum revelado pelo menos no óbito do último em 1780.[5]

Ora, no termo casamental, o reverendo cura dos Fenais, Manuel de Medeiros Araújo, escreve que o picoense fora batizado na paroquial de Nossa Senhora da Ajuda da “ylha do Pyico”. Adivinhem quem apadrinhou o casório?! Nem mais nem menos que o conhecido Manuel Pacheco de Aragam que assina e Domingos Pacheco que o faz de cruz.

Dois anos depois, o casal (já casado!) tinha uma segunda filha denominada Flora e então o cura Manuel Cabral Estrella, no final do termo de batismo, corrige o lapso inicial esclarecendo que Francisco José “he natural da ilha do Pico, freguesia de Nossa Senhora da Ajuda”. Padrinho: Manoel Pacheco da Câmara Aragam, natural da Villa da Ribeira Grande.

O mesmo cura em 1766, aquando do batizado de outra filha do casal, a Josefa, dá-o como natural da dita freguesia de Nossa Senhora da Ajuda do Pico, sendo outra vez padrinho o Manuel Pacheco da Câmara dos Fenais, e a tia materna do neófito Donna Josefa Marianna mulher de João de Mello Afonso[6].

Em 1770, o Padre Vigário dos Fenais, José Alves Canejo, batiza outro filho do casal, José, e aqui Francisco José é dado como natural da freguesia de Nossa Senhora do Rosário da ilha do Pico. Padrinho José Pacheco estudante desta freguesia...

Três anos mais tarde, em 1773, outro filho, António desta feita, e, voltando a barca à cabaça, o cura dos Fenais, José Inácio da Silva, escreve na sua linda letra que Francisco José nasce na Prayinha, freguesia de Nossa Senhora do Rosário da ylha do Pyco. Padrinho: o vice vigário de Vera Cruz, João Bento Pacheco de Arruda.

Já vamos ao Pico. Entretanto, vejamos que terra é essa dos Fenais da Vera Cruz, freguesia dos Santos Reis Magos, da ilha de S.Miguel, onde se radicou e proliferou Francisco José.

Temos uma freguesia rural que foi coberta de cinzeiro e pedra pomes no século XVI mas que por mercê das habilidades dum Manuel Vieira conseguiu com água limpar as terras de cultivo e recuperar a sua produtividade, restituindo-lhe a riqueza antiga.

Nesta freguesia e num período de tempo de cerca de vinte anos, registei a presença em actos religiosos, de nove curas e dois vice curas, tendo em conta as ermidas sufragâneas. Encontro três vigários e dois vice vigários. Padres registo nove, incluindo um padre pregador, de sua graça, frei José de S.Luís que, se li bem, era o Comepotio dos Terceiros do referido convento dos Fenais. Um deles é tesoureiro da paróquia, outro natural da Ribeira Grande, contando com o padre Pedro Moniz que veio de Ponta Garça apadrinhar alguém e o padre José de Melo que do Porto Formoso saiu dos seus cuidados como procurador da noviça Jacinta Rosa do Prado das freiras de Vila Franca para fazer o mesmo. Além destes, surge ainda um Beneficiado que actua com licentia paroqui, de sua graça, José de Andrade Botelho.

Isto, para além doutro, também ainda com licentia paroqui e outro clerigus in minoribus. Devia talvez ter investigado estes latinórios, mas atendendo ao adiantado da hora em que fiz estas investigações, remeto para uma próxima ocasião se a paciência de vossas excelências não ficar de todo esgotada com esta prelecção.

Este estado eclesiástico tinha como cúpula o excelentíssimo e reverendíssimo bispo de Angra, o senhor D.António Caetano da Rocha diversas vezes referido a deferir petições mais ou menos extravagantes, acolitado pelo não menos reverendo ouvidor licenciado João Inácio de Sousa.

Não é dificil imaginar e acrescentar a este poderoso corpo social, os anónimos outros frades do convento e auxiliares de limpeza, que ao tempo se chamavam fâmulos e fâmulas dos quais, na freguesia, identificaremos uma daqui a pouco.

Ao lado do poder espiritual, marcha o poder militar,com os seus nove capitães, nove alferes e até o sargento maior da Ribeira Grande que se dignou subir a encosta e calcorrear os 15 ou 20 quilómetros que o separavam da Vera Cruz e ali ilustrar com a sua presença e a do seu séquito um acto religioso de registo e, enquanto imaginamos o barulho das ferraduras dos cavalos tilintar pelas calçadas e os guarda pós das senhoras que salvaguardavam da sujeira dos caminhos os vestidos e as joias trazidos da vila para impressionar os orgulhosos milicianos e as donas suas mulheres e filhas, vejamos quantas destas localizei na apressada busca. Fora as que me escaparam, contei nada mais nada menos que quarenta e seis senhoras donnas, seis anas, duas antónias, uma antonina, uma catarina e outra clara, uma felícia outra feliciana, duas franciscas, uma guiomar outra inácia, um par de isabeis e de joanas, um trio de josefas, uma luzia, onze marias uma mariana, seis rosas e quatro teresas.

Ao lado do clero e desta nobreza rural, e digo nobreza, porque segundo as Ordenações (I,67) a eleição dos capitâes tinha de ser feita nas pessoas de “melhor Nobreza, probidade, e desinteresse”, erguia-se o poder político com o senhor alcaide, Francisco da Costa, alevantando a vara do mando não sobre aqueles mas sobre os restantes vassalos de el rei D.José, o primeiro.

Vestia esta gente, ao menos os que não tinham dinheiro ou pachorra para se deslocarem a provas, fora do lugar, o alfaiate José de Medeiros, fazedor de fatos de ver a Deus e de outras roupagens menos circunstanciais.

António de Medeiros, barbeiro, ou na sua tenda ou em casa do freguês, atendia grados e miúdos de tesoura, navalha e pincel em punho, pondo um pingo de civilização na comunidade civil e talvez rapando a coroa dos frades e religiosos que povoavam os Reis Magos.

Carpinteiro tinham o Manuel Garcia que não dava para as encomendas.

Não faltava também um pedreiro António Ferreira, um pescador Francisco Rebelo e nada menos que dois sapateiros, o Manuel de Paiva e o Manuel de Sousa, o que faz supor que havia muito pouca gente de pé descalço.

E quando adoeciam ou os chás e as tizanas se manifestavam impotentes, lá tinham que bater à porta do licenciado Bartolomeu de Araújo, que mais ou menos sem anestesia, lá ia sangrando uns e cortando outros, ao sabor das regras hipocratianas aprendidas, ao que suponho, na Coimbra do Mondego.


Lá encontramos uma escrava que servia o capitão Tavares da Câmara e paria umas crias de pai não sabido que a Santa Madre Igreja oleava e aguava retirando-os da condenação eterna mas não da servidão neste mundo pois nem a lei do Marquês extinguindo a escravatura entrou em vigor senão no tempo do senhor Dom Pedro quarto, cinquenta anos depois[7].

Estudantes havia quatro, não sei se tinham aulas no convento ou se estariam de férias e neste capítulo só o professor Teixeira Dias vos poderá esclarecer, e por isso para ele e com a devida vénia vos remeto.

Existem também três mestres nos Fenais mas para além dos seus nomes, ficamos sem saber de que é que eles eram mestres. Aí vão as suas graças com a esperança de que não fossem mestres em todas as artes: Bartolameu Rodrigues Vieira, José de Senra Carreiro e Manuel Joaquim de Sousa.

Por incrível que pareça, os Fenais da Vera Cruz dos Santos Reis Magos, possuíam nove licenciados, sendo um, o dito cirurgião, outro o cogitor da igreja que, com tanta gente tinha que ter alguém que pensasse por ela, e outro, pelo menos durante algum tempo, sui juris. O que estes faziam por lá, para além de assinarem termos de batizado ou casamento, é mais um daqueles enigmas com que, pelo menos por enquanto, teremos de viver.

A vida nesse tempo, do ponto de vista sexual, não era pacata pois encontro nada mais nada menos que vinte e sete expostos, filhos de pais não sabidos e deixados às portas deste ou daquela, não só na sede da freguesia mas na Criação (quatro), no Outeiro (dois) e em S.Pedro (sete), por vezes à porta da mesma pessoa, ignorando eu o significado da escolha dos destinatários de tão vital encomenda. Mas não acaba aqui a pouca vergonha, pois localizámos quinze bébés de que só se sabe o nome da mãe. E, mesmo neste caso, com escândalos de fazer corar o mais empedernido trabalhador das docas.

Veja-se, por exemplo, a figura feita por José Leite que no dia em que sua legítima consorte, Quitéria Francisca, quis batizar o filho José, entrou desbragado no templo do Senhor proclamando que o filho não era seu: “ José Leite marido da dita o não reconhecer por seu filho e protestar perante o Reverendo Vigário e de algumas testemunhas qual por tal o não conhecia e por isso lhe requeria que por tal o não lansasse neste termo “. Apesar deste reclame marital, foram padrinhos o importante alferes Mateus de Medeiros e Faria que foi casado com Donna Theresa de Bittancourt, pais do reverendo padre tesoureiro Manuel José Medeiros de Bittancourt e Faria e sei lá de quem mais e o reverendo Vigário Manuel Pacheco de Resendes, pessoas da alta e que pelos vistos acreditaram mais na mãe do que no pai, a não ser que soubessesm mais do que nós sobre o assunto. Passou-se este drama precisamente no tempo em que o meu antepassado Francisco José se perdeu de amores pela Antónia Maria, cunhada do filho do capitão Melo Afonso, amores esses que frutificaram em Maio enquanto a dita Quitéria frutificou em Fevereiro. Enfim, maus exemplos.

De resto, sem se saber quem foi o pai, deram à luz uma viúva,uma orfã sui juris, uma filha familias, uma nordestense, a conhecida escrava do capitão, e, pasme-se, a própria D.Rosa dos Santos.

Chegou o momento de vos dizer o que é isto de filho familias e de sui juris, o dito latinório a que renunciei mas que aqui, por se tratar de conceitos jurídicos mal ficaria se olhasse de lado tais palavrões. Vêm do direito romano, constam das Ordenações e vieram até os nossos dias embora com algumas differenças de pormenor. Filho familias é no fundo o menor que vive sob o pátrio poder e muito pouco pode fazer sem autorização dos pais. Nesse tempo atingia-se a maioridade aos vinte e cinco anos. Sui juris é o maior ou emancipado que vive sobre si, sem depender de ninguém para praticar os actos que produzem efeito no mundo do direito, como contratos, casamentos etc. Hoje diríamos: solteiro, maior.

Posto isto, continuemos a radiografar os Fenais setecentistas. Ainda houve, no período que serve de baliza a este trabalho, um filho natural que José Moniz Ferreira teve de Anna Medeiros, sem serem casados nem se ver que tivessem tenções de o ser, já que a dita Anna era já filha de mãe solteira e, pelos vistos, a tradição era muito forte naquela família.

Não deixou também de causar escândalo o nascimento de Maria que foi batizada antes de seus pais se casarem, pois, diz o assento, antes de recebidos mas depois de apregoados...

Tinha esta freguesia um escrivão, de seu nome Manuel João de Medeiros mas, pelos vistos, usava pouco do seu ofício pois não me consta que tenha deixado para a posteridade um relato mais minuncioso destes casos passionais que viriam demonstrar se tal ainda fosse necessário, que o mundo pouco mudou desde que é mundo.

Sem serem micaelenses, havia pelo menos mais duas pessoas além de Francisco José: a saber, Lourenço Borgeas e Maria Batista, ambos marienses, sendo esta última de Sto. Espírito.

Para deixar aqui uma porta aberta à especulação, dir-vos-ei que nestes Fenais da Maia, sem qualquer ligação aparente com o Francisco José Cardoso Serpa, existem dois personagens, pai e filho, do mesmo nome: Franciscos Moniz de Serpa. Digo especulação porque a Prainha do Norte no Pico tem hoje e de longa data, mais Serpas que as mães e que se saiba Frutuoso, em S.Miguel, só refere um, Diogo Afonso de Serpa, que casou com uma bisneta de João d’Albernaz que veio do Faial no século XVI ou antes, mas já viúvo. Esse casamento ocorreu nos Fenais...

Finalmente, queria falar-vos duma figura que assina todos os termos de batizado e casamento, ao menos a partir de certa altura. Trata-se do tesoureiro leigo da igreja, o senhor Carolos de Sousa Froes, casado e cheio de filhos que vão sendo batizados à medida que sua excelsa consorte os vai pondo neste mundo. Mas tenho cá para mim que tanta assiduidade litúrgico assinante se ficou a dever mais às funções que desempenhava do que a qualquer outra razão teológica, pois ainda é tradição pagar-se ao acólito, alguma coisinha com direito ou não a estridente repique. E nesta vida, vem de longe o ditado de que, quem parte e reparte e não fica com a melhor parte...

Temos, portanto, desenhados os Fenais. Vejamos agora o Pico e mais particularmente a freguesia de Nossa Senhora da Ajuda ou da Prainha, usando a mesma baliza temporal. E aqui as coisas complicam-se. Nossas Senhoras do Rosário no Pico parece que só existem em S.João e Criação Velha e, ainda assim naquela, só de nome.

Regressando ao outra vez incontornável Frutuoso, vejamos o que ele nos diz deste lugar da Prainha de Nossa Senhora da Ajuda, pois, como veremos, deve ter sido ali que Francisco José mergulhou nas águas batismais: “...uma praia a que chamam Ribeirinha, de calhau não muito grosso, onde vara um batel, que há naquela freguesia da Ribeirinha ou Prainha em uma grande enseada defronte da qual, menos dum tiro de besta dentro no mar está um ilhéu pequeno, ao qual com bom tempo vão muitos homens a nado e em batéis a folgar e tomar muita soma de caranguejos. A igreja do lugar desta freguesia da Prainha ou Ribeirinha é de advocação de Nossa Senhora da Ajuda; há nela 110 fogos e almas de confissão 465, das quais são de comunhão 314”.

O mais famoso florentino, Frei Diogo das Chagas, no seu seiscentista e preciosíssimo Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores[8], refere: “A freguesia da Prainha: Nossa Senhora da Ajuda tem o padre vigário Estevão da Costa e o cura extravagante o padre Pedro Gomez”.

A igreja actual é reconstrução do século XVIII (1787) e esta freguesia hoje tem três ermidas: Nossa Senhora da Piedade, S.Pedro, Nossa Senhora das Dores. Diz ainda o autor do Diccionário Corográfico dos Açores[9] que fazem parte desta freguesia os lugares da Prainha do Galeão (o que me parece lapso) e Prainha do Norte. Já a Corografia Açorica do século XIX[10] diz que é “ paróquia de invocação da Senhora dos Remédios com vigário, cura e tesoureiro. Prainha de Cima é uma grande povoação no interior, com cura pároco numa ermida filial”, Frutuoso diz que na Prainha do Norte, o Orago é Nossa Senhora da Piedade. Ficamos esclarecidos! E, ainda mais ao lermos frei Agostinho de Monte Alverne vemos: “Na Prainha, Nossa Senhora da Ajuda, tem vigário, cura, um beneficiado com o seu tesoureiro, 242 fogos e 820 pessoas, com quatro ermidas, Nossa Senhora...(sic), Nossa Senhora do Socorro, Nossa Senhora da Guadalupe e São Pedro”. Como vêem, o diabo meteu-se na coisa e apagou a boa pista que poderia esclarecer o enigma do Rosário que existindo na Achadinha em S.Miguel, na Criação e em S.João do Pico, teima em não querer mostrar-se na Prainha. Paciência.

A verdade também é que, quando D.João III elevou S.Roque a Vila, houve controvérsia entre essa freguesia e a de Nossa Senhora da Ajuda sobre qual delas deveria ter a preferência. A Câmara das Lages é que deliberou a favor de S.Roque. E el-rei avançou com o motu proprio de 1542[11].

Ficou famoso este lugar da Prainha, devido a uma pavorosa erupção de 1562, no dia de S.Mateus, que rebentou num lameiro ou lagoa do Caiado e de que resultou rios de pomes e lava que do alto cairam para o mar formando cais de pedra rija. Tão espectacular foi a lava incandescente de mais de quarenta ribeiras de fogo durante mais de oito meses, que se via das outras ilhas, fazendo em S.Miguel, da noite, dia! A população do Pico fugiu para o Faial, S.Jorge e Terceira[12]. Pudera, não!


É ainda na Prainha termo da vila de S.Roque que viveram, no século XVII, os Dias Bica ou Pereira Bica avós do maior esritor de todos os tempos de língua portuguesa, Camilo Castelo Branco e também antepassados do mais famoso dos prainhenses, António Ferreira de Serpa[13], homem público, investigador, escritor e genealogista. António Ferreira de Serpa é, sem dúvida, o mais famoso açoriano deste apelido.

Produz então o Pico, além do vinho, e naturalmente da aguardente, fruta de espinho, mel, cera, pastel (pouco mas muito bom), madeira, alguma dela preciosa para escritórios. Para azar nosso, a partir de 1760, surge no mercado a concorrência da aguardente do Brasil que as reformas pombalinas estimularam. Produz ainda gado ovino, bovino, caprino e suíno de que se fazia naquele tempo pele para sapatos e lã para resguardar do frio quando a montanha se cobria de neve.

Sabe-se que de 1761 a 1763, a Prainha pagou de dízimos do vinho, a grande produção picoense, 280$000 reis e não pagou nada em 1764 [14].

No século XVIII o Pico tinha cerca de 22.000 habitantes.

Quando tive a imensa alegria de saber que no meu corpo corria sangue doutra ilha, escrevi ao querido amigo Padre Júlio da Rosa, pedindo-lhe que investigasse essa família, designadamente o que estaria para trás, no tempo. Foi isto em 1990. Daquele ilustre investigador recebi pronta resposta, veiculando a informação do Dr. José Elmiro Teixeira da Rocha, hoje Director da Biblioteca de Angra e então da da Horta. Entre 1731 a 1746, não aparece nenhum Francisco na freguesia em questão mas, eureka, seu irmão João foi batizado em 15 de Agosto de 1744, precisamente no dia maior em que alguns festejam Nossa Senhora da Ajuda, não havia porém qualquer referência aos avós.

Já é um princípio, pois confirma a localização da família no Pico, em Nossa Senhora da Ajuda, no século XVIII.

Agora, porque razão sairam eles da ilha natal e foram parar a S.Miguel e na costa Norte e nos longínquos Fenais da Vera Cruz dos Santos Reis Magos?

A partir daqui e enquanto os divórcios e os despejos não me derem descanso, terei da especular saltando à toa sobre algumas pedras na travessia do rio da ignorância. Eis algumas destas pedras:

- em 1757, em frente à Prainha, na ilha de S.Jorge, um violento terramoto matou mais de mil pessoas, derrubando casas e templos[15];
- esse mesmo terramoto na ilha do Pico derribou a igreja da Piedade e várias casas, morrendo onze pessoas em três lugares [16] (sendo uma delas o próprio capitão Luis Homem).
- de Dezembro de 1759 a Maio de 1760 desencadeou-se uma violenta crise sísmica que era precedida de atemorizadores estrondos subterrâneos.
- em finais de 1757, a fome ameaça devido à grande penúria dos cereais que não chegam para as necessidades, vendo-se os povos obrigados a recorrer, para sobreviver, às socas, raizes, e tremoços na alimentação diária, “denotando uma clara intenção de emigrar”[17] .

Ou porque uma das pessoas mortas no Pico ou em S.Jorge pertencia à família ou porque a casa foi destruida ou porque se cansaram de viver em susto permanente, a verdade é que os Cardosos de Serpa sairam do Pico. Ou eles todos ou só o Francisco José pois que, por mais que tenha procurado, só o encontro a ele, referido nos registos paroquiais.

Da família propriamente dita, o que se encontra nos livros antigos referentes ao Pico são referências aos Cardosos como primeiros povoadores frutuosianos, de que se destaca “o honrado Ruy Cardoso” procurador do célebre Pedro Eanes do Canto, Provedor das Armadas, na ilha Terceira[18]. Vê-se também o Capitão António Cardoso Monteiro das “mais limpas e calificadas famílias desta ilha... e Christãos velhos legítimos, sem fama, nem rumor, em contrário, como he público”. No séc.XVIII que aqui mais nos toca, encontro Cardosos Valadão, Cardosos Machado e Bettencourts. Dos Cardoso Serpa, nada.

Além dos Serpas que vimos nos Fenais, Frutuoso refere João Roiz de Serpa rendeiro do Corvo no século XVI que agasalhou os náufragos do grande galeão que do Brasil vinha com gente doente e muita artilharia e que deu à costa na Baía do Maranhão.

Perdõem-me se vos deixo mais baralhados que esclarecidos sobre esta família ou este homem do Pico que emigrou para S.Miguel no tempo em que os Távoras foram legalmente assassinados pelo Marquês. Mas, tal como o destes, tive o azar de não dar com termos paroquiais ou actos notariais que me dissessem alguma coisa de mais esclarecedor. Não lhe encontrei o óbito nem dele nem dos pais o que me leva a pensar que talvez tenham regressado ao Pico ou mudado de freguesia ou de ilha. Encontro Fancisco José a servir de testemunha dum sobrinho da mulher, irmã da dita Josefa Mariana, em 1772, de parceria com José Moniz Barbosa. E até agora mais não disseram os livros.

Não digo que prometo continuar, já que isto, passado todo este tempo que vos tomei, soaria a ameaça; mas penso que pelo menos para mim, não conto terminar esta busca enquanto não descobrir o que se passou. Afinal não é a genealogia mais que um passatempo de gente pretenciosa, um poderoso auxiliar da história que nos permite compreender o presente e preparar o futuro?

Carlos Melo Bento
Mosteiros, Agosto de 2004


















Documento 1

Livro de Casamentos da Achadinha, 1701-1796

Jose de Medeiros e Anna Maria

Em os dezanove dias do mês de Julho de mil setecentos e oitenta e nove de tarde feitas as denunciações canónicas nesta igreja de Nossa Senhora do Rosário paroquial da Achadinha, na Ermida de S.José desta sufragânea, sem descobrir impedimento, por mandado do Reverendo Ouvidor do distrito e na presença de mim José da Ponte Arruda, vigário dessa mesma paroquial e das testemunhas Maheus de Amaral José da Costa, casados desta mesma freguesia e de outras pessoas de mim conhecidas se casaram solenemente em face da Igreja por palavras de presente José de Medeiros viúvo de Quitéria Maria sepultada nesta dita paroquial, com Anna Maria filha de Francisco José Serpa e de Maria Antónia já defunta natural da Igreja dos Santos Reis Magos do lugar dos Fenais da Vera Cruz onde foi batizada e ambos desobrigados nesta dita paroquial da Achadinha a quaresma passada do presente ano de mil setecentos e oitenta e nove e receberam as bençãos e para constar fiz este termo no dia mês e era ut supra
Vigário Joam da Ponte Arruda
Sinal de José da Costa +Soeyro
Matheus do Amaral








Documento 2

Livro de Batizados dos Fenais da Vera Cruz

Manuel filho de Joze Francisco filho familias de Francisco Cardoso Serpa e de Anna Maria naturais da paroquial de Nossa Senhora do Rosário da ilha do piCo e de Maria Antonia filho familias de Joam de Oliveyra e de Maria Carreyra natural desta paroquial dos Santos Reis Magos lugar dos fenays da Vera Crux nasceu em os quatro dias do mês de Mayo do ano de mil setecentos e sessenta e três e foi batizado em os onze dias do dito mês nesta dita paroquial dos Santos Reis Magos freguesia de seus pais por mim Manuel de Medeiros Araújo cura dela foi padrinho o licenciado Mano Pacheco de Aragam homem sui juris e para constar fiz este termo que assinei dia mês e era ut supra com as testemunhas abaixo assinadas Carolos de Sousa Froes e Matheus de Medeiros todos fregueses desta dita paroquial (?) pay como padrinho
O cura Manoel de Medeyros Araújo
Carlos de Sousa Froes
Matheus de Medeyros e Faria








Documento 4

Livro de Batismos dos Fenais da Vera Cruz fls. 61

Flora filha legítima de Francisco José e de Maria Antónia naturais desta paroquial dos Santos Reis Magos dos fenais da vera crux nasceu em os dezassete dias do mês de Janeiro da era de mil setecentos e sessenta e cinco anos foi batizada nesta paroquial de seus pais por mim Manoel Cabral Estrella cura actual desta dita igreja em os vinte dias do dito mês e era ut supra foram padrinhos Manoel Pacheco da Camara Aragam natural da vila da Ribeyra Grande e Josefa Maria filha de Joam de Oliveira natural desta sobredita paroquial, em fé do que fiz este termo que assinei com as testemunhas presentes o licenciado Amaro da Costa Barbosa filho de José Barboza e Carolos de Sousa Froes deste dito lugar dia mês e era ut supra. Declaro que Francisco José é natural da Ilha do Pico freguesia de Nossa Senhora da Ajuda.

O Cura Manoel Cabral Estrella
Carlos de Sousa Froes
Amaro da Costa Barboza








Documento 5

Livro de Batismos nº. 7 dos Fenais de Vera Cruz, fls.93

Josefa filha legítima de Francisco Jose natural da ilha do Pico freguesia de Nossa Senhora da Ajuda e de Maria Antonia natural desta paroquial dos Santos Reis Magos lugar dos Fenaes de Vera Crux, nasceu em os dezoito dias do mês de Setembro da era de mil setecentos e sessenta e seis e foi batizada nesta paroquial de seus pais por mim Manuel Cabral Estrella cura actual desta dita igreja em os vinte e um dias do dito Mês e era ut supra foram Padrinhos Manuel Pacheco da Camara desta dita freguesia e Donna Josefa Maria mulher de João de Melo Afonso desta dita freguesia em fé do que fiz este termo que assinei com as testemunhas presentes Carolos de Sousa Froes Antonio de Medeyros, todos desta paroquial dia mês e era ut supra.
O cura Manoel Cabral Estrella
Antonio deMideyros
Carolos de Sousa Froes










Documento 6

Livro de Batismos nº. 7 dos Fenaes da Vera Cruz, fls.107


Anna filha legítima de Francisco Jose natural da Ilha do Pico freguesia de Nossa Senhora do Rosario e de Maria Antonia natural e batizada nesta paroquial igreja dos Santos Reis Magos do lugar dos Fenais da Vera Crux nasceu aos trinta dias do mês de Setembro de mil setecentos e sessenta e sete e foi batizada aos cinco de Outubro da mesma nesta dita paroquial por mim Antonio Gonçalves vice cura da dita igreja foram padrinhos o capitão Manuel Pacheco de Aragam por procuração que me apresentou o alferes Matheus de Mideyros e Maria Josefa Pacheco filha familias de Domingos Pacheco e de Rosa Cabeceiras jã defunta e testemunhas o padre Jose Antonio de Mideyros e Carolos de Sousa Froes tesoureiro da dita igreja todos desta freguesia e que para constar fiz este termo que assinei dia mês era ut supra.

Antonio Gonçalves vice cura
Jose Antonio de Medeiros Dutra








Documento 7

Livro de Batismos nº. 7 dos Fenais da Vera Cruz, fls. 174 vº


Jose filho legítimo de Francisco Jose natural da ilha do Pico freguesia de Nossa Senhora do Rosario e de Maria Antonia natural da freguesia desta paroquial igreja dos Santos Reis Magos deste lugar dos Fenais de Vera Cruz, donde seus pais são fregueses, nasceu aos dezoito dias do mês de Março do ano de mil setecentos e setenta e foi batizado aos vinte e sete dias do dito mês, e ano por mim Jose Alves Canejo vigário da dita igreja, foi padrinho Jose Pacheco estudante natural desta freguesia, foram testemunhas Carolos de Sousa Froes tesoureiro e o padre António da Costa Canejo fregueses da dita igreja e para constar fiz este termo, que assinei dia mês e era ut supra
Jose Alves Canejo vigario
Carolos Sousa Froes











Documento 8

Livro de Batismos nº. 7 dos Fenais da Vera Crux,fls.181,vº.

Antonio filho de Francisco Jose natural do lugar da Prainha freguesia de Nossa Senhora do Rosário da ilha do Pico, e de sua mulher Maria Antonia natural desta freguesia dos Santos Reis Magos do lugar dos Fenais de Vera Cruz nasceu aos nove dias do mês de Julho de mil setecentos e setenta e três anos, e foi batizado aos treze dias do dº. mês e era nesta mesma igreja dos Santos Reis Magos paroquial de seus pais por mim Jose Inacio da Silva cura dela foram padrinhos o reverendo v.vigario da mesma João Bento Pacheco de Arruda, e testemunhas que comigo assinaram o Alferes Lazaro de Sousa Pereira e Henrique Jose de Medeiros filho do Alferes Matheus de Mideyros e Faria todos fregueses e naturais desta mesma paroquia e para constar fiz este termo dia mês era ut supra
O cura Jose Ignacio da Silva
Lazaro de Sousa Pereira
Henrique Jose de Mideyros





Documento 9

Livro de Casamentos dos Fenais da Vera Cruz, fls.143 vº

Em os vinte e cinco dias do mês de Agosto do ano de mil setecentos e sessenta e três sendo de tarde nesta paroquial dos Santos Reis Magos lugar dos Fenais da Vera Cruz feitas as três denunciações canonicas na forma do sagrado concílio Tridentino sem haver impedimento algum como me constou por um mandado do Reverendo Ouvidor do Distrito que fica no arquivo desta igreja foy(?) em presença de mim Manuel de Mideyros Araujo cura desta dita paroquial e das testemunhas que presentes foram Manoel Pacheco de Aragam e Domingos Pacheco fregueses desta paroquial de mim conhecidas e mais povo que presente se achava se casaram solenemente in face da igreja com palavras de presente Francisco Joze filho de Francisco Cardoso Serpa e de Antonia Maria batizado na paroquial de Nossa Senhora da Ajuda da ylha do Pyco com Maria Antonia filha de Joam de Oliveira e de Maria Carreyra batizada na dita paroquial dos Santos Reis Magos e nesta ambos desobrigados a quaresma passada de mil setecentos e sessenta e três logo levaram as bençãos e para constar fiz este termo que assinei com as ditas testemunhas dia mês e era ut supra.
O cura Manuel Medeiros Araujo
Manuel Pacheco de Aragam
Sinal de Domingos + Pacheco




Documento n.º 10
Livro de Óbitos dos Fenais da Vera Cruz, folhas 37 verso

Em os vinte e nove dias do mês de Outubro de mil setecentos e oitenta anos faleceu da vida presente com todos os Sacramentos da Santa Madre Igreja Maria Carreyra viúva de João de Oliveira desta freguesia dos Santos Reis Magos lugar dos Fenais da Vera Cruz de idade de setenta e seis anos pouco mais ou menos foi seu corpo envolto em um habito de soyal(?) do patriarca São Francisco acompanhada pelo Reverendo Colégio desta dita igreja e religiosos de São Francisco deste lugar conforme a imposição de seu testamento que fez de mão comum com o dito seu marido, e na forma do mesmo se lhe fez um oficio de nove lições com a assistência de todos os referidos ministros: foi sepultada nesta referida paroquial e por sua alma mandou seu genro João de Melo Afonso celebrar trinta e nove missas comuns e cinco previlegiadas do que para constar fiz este termo que assino dia, mês e era ut supra.
O vigário João Bento Pacheco d’Arruda










Relação de algumas pessoas, estados, profissões e cargos constantes dos registos paroquiais dos Fenais da Vera Cruz entre 1760 e 1793

Ajudantes
José de Senra Carreiro, 1769, cc Anna Soares; b. 1769, fls. 137vº; 1772, b. fls.169 vº
José Moreira Nunes, b.1768, fls.112; 1771, b.fls.160

Alcaide
Francisco da Costa, p. b. 4.IV.1767, fls.103; id. 1.5.771

Alfaiate
José de Medeiros, b. 1774, fls.193vº

Alferes
António Amaral Vasconcellos, da Achadinha, b.1767, fls. 100, é sui juris; b.1769, fls133
António Amaral, da Salga, 1771, b.fls.160
António Marques?, 7.VII.1771, homem casado,b.fls.161
António Medeiros Bettencourt cc D. Maria de Medeiros, b. fls.94, FVC; b.1770, fls.148 vº; b. 9.X.1774, fls.197; b. 26.9.1778
Lázaro de Sousa Pereira, é test. em b. 9.VIII. 1767; em 1771, é referido como pai de Manuel José e D.Anna; b. 1774 e surge c. com D.Maria Antónia em b. fls.101
Manuel Correia Machado, do Nordeste, 1770
Manuel Moniz Garcia, curador, b. 17.VIII. 1772, fls.177 vº
Manuel Rodrigues Pereira, b.12.VII.1773, q vive c. e é procurador do capitão Manuel Pacheco Câmara Estrela e da mulher; 1774
Matheus de Medeiros e Faria, em 1767 é procurador do padrinho no b. do Lº. b. 7 fls 107, em 1773 aparece c.c. D.Teresa de Bettencourt; 1763 aparecem como pais do padre tesoureiro Manuel José Medeiros; 9.VI.1773; no b, de fls.181 vº, são citados como pais de Henrique José de Medeiros.

Barbeiro
António Medeiros, b. 16.XII.1773,

Beneficiado
José Andrade Botelho, 1772, com licentia parochi


Bispo de Angra
D.António Caetano da Rocha, b.1767, fls.111; 20.VI. 1771, B.fls.165


Capitães
Bento Botelho Arruda, c. 6.II.1769
Francisco Moniz Bettencourt, c. 30.IX.1765; c. 29.IV.1767
Manuel Correia de Sousa,b.1765, fls.66; b.3.XII.1773, fls.179
Manuel Medeiros Sampaio, 1767, 17.I.1771, 72, pai de Josefa do Sacramento, filha famílias
Manuel de Melo Afonso cc D.Maria Bettencourt (pais de Christovão de Melo Afonso, 1765, de João de Melo Afonso cc D.Josefa Marianna, e de D.Anna Bettencourt cc João Moniz de Sá) e já eram falecidos em 1760; b. 1765, fls.64
Manuel Pacheco de Aragam, em 1762 é ainda solteiro, é padrinho de b. por procuração em 1767, fls. 107, Lº 7, b.1770. fls.150 e 1771, falece em 30.6.1793 com 78 anos.
Manuel Pacheco da Câmara Estrella cc D.Rosa Ignácia Leonor Baldaia, b. 29.VII.1773

Carpinteiro
Manuel Garcia, b. fls.169, 1772

Cirurgião
Bartolomeu de Araújo, 1762

Curas
António Francisco da Costa.b. 21.VI.1772
António Gonçalves-vice cura FVC, b. 30 IX.767
António Soares, vice cura, 1771
António Gomes.1771
João Bento Pacheco de Arruda. b. fls.168 vº, 1772
José Inácio da Silva, b. 9.VI. e 29.VII.1773. da Paroquial Reis Magos
Manuel Cabral Estrella, dos FVC em 1766, b. A fls.93, Lº.B. 7, e da ermida de S.Pedro, b.16.XII.1773
Manuel Cordeiro da Silva, b. 1771, fls.161
Manuel José Moreira, b. 9.X.1774
Manuel de Melo Afonso. b. 1767, fls.98vº, Cura de S.Pedro; b.1770, fls,150
Manuel Medeiros Araújo, b.17.X.1762, fls. 4; c. 25.VIII.1773
Vice cura Manuel Gonçalves 70
Pedro Costa Lima, 1771, b.fls.165


Donas
Anna Bittancourt cc Duarte Pereira,1770
Anna Bittancourt cc João Moniz, b. 1767, fls.98vº
Anna do Espírito Santo cc João de de Medeiros,1763
Anna Francisca mulher de João Bento Sampaio, 1765; b.1769, fls.138
Anna filha familias do alferes Lázaro, 1774
Ana Jacinta cc José Moniz Barboza, 1770, b. fls.149, 1771,fls.160
Antónia do Espírito Santo cc João de Medeiros, c. 21.XI.1763; de VFC,1764
Antónia cc Joaquim Medeiros, 1767
Antónia mulher de Sebastião Medeiros, b.1763, fls.20vº
Antónia de Bittancourt mer. de António de Frias, b. 1763, fls.21vº
Antonina cc Manuel da Costa Sá Bettencourt da Senhora da Conceição da Ribeira Grande, 1771, fls.159
Catarina mer. de José Leite, b. 176
Clara Vieira Medeiros cc José António Medeiros Moniz, 1772, fls 170; b. 9.X.1774
Felícia filha do capitão Manuel Correia e de D.Maria, b. 1765, fls.66
Feliciana Bettencourt filha de Luzia e António, 1773
Francisca de Jesus Medeiros cc António Leite, ~c. 25.IV.1762; b. 1763, fls.17vº
Francisca Bettencourt cc Diogo de Paiva, c. 26.VIII.1762; 1763, p; b. 20.VII.1772, fls173vº
Guiomar cc Manuel Moniz Vieira, c. 27.VII.1760
Ignácia Facinta do P.Formoso cc Manuel Moniz, 1772
Isabel cc Manuel Pimentel, c. 24.VII.1763
Isabel Bettencourt 1771 cc Domingos Pacheco, b.1765. fls.65; b. 1772, fls.166 vº
Joana Bettencourt filha de Domingos Pacheco e D.Isabel Bettencourt, 1771
Joana de Bettencourt cc Francisco Sousa Ferreira, 1771, B.fls.163
Josefa filha de D.Brigida e de António Melo, b.1765, fls.65
Josefa Mariana, cc João de Melo Afonso, em 10.IV.1760; c.10.IV.1760; b. 1765, fls. 66vº; 1767, fls. 84; b. 24.X.1770; b.21.VI.1772,
Josefa Medeiros cc Manuel Moniz Vieira, c. 1765; b. 1769, fls.138
Luzia de Bettencourt e António Carreiro, 1767; b. 20.II.1774, fls.182vº são referidos como pp de D.Felícia de Bittancourt
Maria mulher do capitão Manuel Correia, b.1765, fls.66
Maria Antónia cc Manuel de Amaral, b.1769, fls.133; 1771
Maria Bettencourt cc Capitão Manuel de Melo Afonso, já eram falecidos no c. de seu filho João em 10.IV.1760; 1765
Maria Bettencourt cc Manuel Leite Vieira Norte, 1767
Maria Bettencourt cc Manuel Fagundes de Oliveira, b. 1770, fls.139 vº; b. 4.X.1772, fls.176vº
Maria do Espirito Santo cc António Rebelo de Oliveira, b.1764, b.1771, fls.160vº.
Maria Medeiros mulher do alferes António Manuel Medeiros Bittancourt, b. 9.X.1774, fls 197
Maria do Sacramento mulher de José de Melo Afonso, b.1763; b.1767, fls.58vº; b.1770, fls.148
Maria Teresa de Medeiros cc Manuel Moniz, c. 27.III.1765. ele f. de Donna Roza dos Santos e de p.i. e ela de Manuel Moniz Vieira e de Maria Moniz
Maria do Rego cc Manuel Pacheco Resende, b. 1772, fls. 176 vº;
Mariana cc Matias Medeiros, 1765
Rosa cc José Moniz Medeiros, 1769, b.fls.132
Rosa Bittancourt irmã de Manuel José filhos do alferes Matheus Medeiros e Faria, b.1767, fls.84; 1769
Rosa Bettencourt cc Luís Francisco, 1771
Rosa é madrinha c\ José Duque Caetano, 1763
Rosa Ignácia Leonor Baldaya cc capitão Manuel Pacheco da Câmara de Aragão, b. 9.IX.1774
Maria Teresa Medeiros cc Manuel Moniz filho de D.Rosa dos Santos e pai incógnito. 1765
Teresa irmã de Jordam Rebelo, sui juris, b.1771,fls.160
Teresa mãe do padre Manuel José, 1769
Teresa Bettencourt cc Mateus Medeiros e Faria, b.10.II.1763, fls.12vº
Teresa cc André Francisco, c. 21.V.1760

Escrava
Francisca escrava do capitão Manuel Tavares da Câmara, b.17.3.1765, fls.64; b. 7.XII.1768

Escrivão do lugar dos Fenais
Manuel João Medeiros, b. 9.X.1774

Estudantes
Amaro da Costa Barboza, nos FVC em 1765 assina como p.de c. fls. 81, Lº 7; b.1767, fls.83
António Boteylho, b. 1769, 124 vº; id. fls 119
José Pacheco, é pad. B. Em FVC, 18.III.1770, fls 174 vº
Pedro do Rego, 1770, b. fls.150

Fâmula
Maria Machado filha de Bárbara Correia, viúva, b.1765, fls.37


Filhos Nascidos antes do matrimónio
Maria de pais não recebidos ainda mas apregoados

Filhos naturais
De José Monis Ferreira (seu pai é pedreiro) e de Anna Medeiros filha de Maria Medeiros, 1767


Filhos de pais não sabidos ou incógnitos
Exposto à porta de Domingos Correia, b. 7.VII.1763, fls.31
António, exposto à porta de Matheus de Oliveira, b.1765, fls.65vº
Francisco, exposto à porta Bárbara Pimentel da Lomba de S.Pedro, b,1770, fls.150
Francisco, b.1767
Genoveva exposta à porta de António Araújo, na Criação, b. 18.IX.1767
Genoveva, b. 17 74
Inez, exposta, b. 27.I.1769
João, exposto à porta de Manuel Machado, b.1765,fls.68
Joaquim, à porta de José da Costa, b. 15.III.1774, de véspera, á noite, na Criação
José, exposto, b. 24.I.1770
Manuel, b. em 1.3.61 como f p i é ajuramentado filho de Bibiana Moniz, com licença episcopal
Manuel, exposto à porta de André de Sousa, b.1764, fls.51vº
Manuel, exposto à porta de Sebastião Moniz, b.1764, fls.40
Manuel, exposto na Lomba de S.Pedro, b. 25.VIII.1769
Manuel, exposto, b. 10.I.1770
Manuel, exposto, b. 19.II.1770
Manuel, exp. à porta de Bárbara Pimentel Lomba de S.Pedro, b.1769, fls.135
Manuel, à porta Francisco Vieira, b. 1770, fls.140 vº, Lomba S.Pedro
Manuel, porta Manuel Moniz Lomba de S.Pedro, b.1770,fls.141
Maria, à porta de Manuel Rebelo da Criação, b. 9.VIII. 1767
Maria, exposta à porta de Manuel Rebelo, Criação, b. 9.VIII.1767
Maria, exposta à porta de Manuel Sousa Marrão, S.Pedro, b. 7.XII.1771, fls. 166
Maria, exposta à porta de José Rebelo, Outeiro, b. 31.V.1771,fls.159
Maria, exposta à porta de José de Arruda, Lomba de S.Pedro, b.1771, fls.158
Maria, exposta, b. 24.III.1771
Maria, exposta à porta de José Rebelo do Outeiro
Maria, exposta à porta de Manuel João de Mydeyros, escrivão do lugar
Pedro, exposto à porta de Domingos Correia, b.1763

Filhos de pai não sabido
De pai não sabido e mãe filha familias, b. 24.XII.1769, fls.136 vº
Eugénia filha de Clara Monis, b.1767, fls.98
Francisca filha de Maria do Couto viúva de Francisco Carreyro, b.1764, fls.48vº
Francisco filho de Clara Rebelo, 1772
Francisco filho de Theresa de Sousa, 1763
Isabel filha de Margarida Moniz sui juris e orfã, b. 1767, fls.90vº
Jacinta filha de Francisca Pacheca, do Nordeste, b. 8.XI.1767
Joaquim filho de Maria Rebela filha familias, b. 1763, fls.23
José filho de Francisca escrava do Capitão Manuel Tavares da Câmara
José filho de Quitéria Francisca mulher de José Leite e de pai não sabido pelo dito José Leite marido da dita o não reconhecer por seu filho e protestar perante o Reverendo Vigário e de algumas testemunhas qual por tal o não conhecia e por isso lhe requeria que por tal o não lansasse neste termo. Padrinhos Mateus de Medeiros e Faria e o Vigãrio Manuel Moniz filho de D.Rosa dos Santos, 1765
Manuel filho de Antónia Furtada, b.1765, fls.63
Maria filha de Bárbara Medeiros, b.1771
Maria filha de Eugénia de Melo, b.1772, fls.167

Licenciados
Amaro da Costa Barbosa, é testemunha em c. nos FVC, de 1765, fls 61, e é filho de José Barbosa; b. 1768, fls.112 vº; b.1769, fls.137, vº
André Melo Cabral, 1771
António Botelho, 1768 cogitor da igreja, fls.111
Bartolomeu de Araújo, cirurgião dos Fenais, b. 17.X.1762
João Inácio de Sousa, 177
José Pacheco Oliveira, 1769
Manuel Boteylho Quintanilha, b.1764, fls.43, cc Maria Ferreira; 1765; b.1766, fls.79; em 1770, representa o cap. Man.Pacheco. de Aragam b.1764, fls.43vº; b.fls.177
Marco ou Mano Pacheco de Aragam, 1763 sui juris
Manuel Pacheco de Aragão sui juris, 1764


Mestres
Bartolomeu Rodrigues Vieira, b. 9.X.1774, fls.197
José de Senra Carreiro, b.12.VII.1773
Manuel Joaquim de Sousa, b, 1773, fls.181

Naturais doutras ilhas
Lourenço Borgeas de Santa Maria, b. 1767. fls.85vº
Maria Batista de Sto Espírito ilha de Sta Maria, b. 9.IX.1774, fls.200

Ouvidor
licenciado João Inácio de Sousa, 1771, B.fls.165

Padres

António José Pacheco Resendes, b. 1768, fls 119
António da Costa Canejo. B. FVC, 18.III.1770, fls.174 vº; 1772, natural da Ribeira Grande
António Medeiros Costa, 1760, b.1773, reside em S.Pedro
Bernardo José de Andrade Botelho com licentia parochi
José António de Medeiros Faria e Dutra, clérigo in minoribus, b. 1768, fls 119; b.17.XII, 1769, fls.138; B. 23.XI.1772
José de Melo, b. 4.IX.1772, Porto Formoso procurador duma noviça de VFC Jacinta Rosa do Prado
Manuel José Medeiros Bettencourt. b. 1770, fls.149, 1771, b.fls.158. Tesoureiro; b. 9.X.1774
Pedro Moniz, de Ponta Garssa. 1770, b. fls.150
Pregador Frey José de San Luis Comepotio dos tersseiros do convento dos Fenais da Vera Cruz, b. 1768, fls.123 vº


Pedreiro
António Ferreira, seu filho tem um filho natural duma Anna Medeiros filha de Manuel Medeiros, b. 1767, fls.99

Pescador
Francisco Rebelo, b. 1763, fls.35vº

Sapateiros
Manuel de Sousa, c.15.XI1769
Manuel de Paiva, c. 10.IV.1771, fls.188


Sargento mor
José Duarte da Câmara, Ribeira Grande, b. 1765, fls.64; b.1769, fls.139

Serpas
Francisco Moniz de Serpa filho de Francisco Moniz de Serpa, 1767

Solteiros
Henrique Medeiros mosso solteiro

Tesoureiro
Carolos de Sousa Froes (assina praticamente todos os termos deste período), leigo.
Padre Manuel José Medeiros Bettencourt, da paroquial dos FVC

Vigário
António da Costa Canejo, b.1770, fls.174 vº, FVC
João Bento Pacheco Arruda vice vigário, b. 9.VI.1773, fls.171 vº, 74 e o. 29.X.17, fls.37 vº.80
José Alves Canejo, é vice vigário em c. FVC, 1765, fls 81; vigº em b. 18.III. 770, fls.174 vº; B. 7.VII.1771, fls 160
Manuel Pacheco Resendes, 1762

















São os seguintes os livros de registo paroquial existentes na Bib. Púb. PD, referentes a

Fenais de Vera Cruz:
Batizados: 1663-1872
Casamentos: 1622-1883
Óbitos: 1697-1883
Ób. Cria.: 1799-1811

Achadinha
B. 1715-1883-1890
Legit. 1878
C. 1701-1881-1890
Ó. 1701-1881-1890
1787-1811-1890













CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS REGISTADOS PAROQUIALMENTE EM QUE É REFERIDO O NOME DE JOSÉ FRANCISCO SERPA
OU PARENTES MUITO PRÓXIMOS

4 de Maio de 1763 nasce seu filho Manuel

25 de Agosto de 1763 casa com Maria Antónia

17 de Janeiro de 1765 nasce sua filha Flora

3 de Dezembro de 1765 nasce Veríssimo que é registado como filho de José Francisco natural da ilha de Santa Maria e de Antónia do Sacramento; parece-me ser a mesma pessoa mas o reverendo enganou-se na ilha e no nome da mulher.

18 de Setembro de 1776 nasce sua filha Josefa

30 de Setembro de 1767 nasce sua filha Anna

18 de Março de 1770 nasce seu filho José

9 de Junho de 1773 nasce seu filho António

29 de Outubro de 1780 morre sua sogra Maria Carreyra

19 de Julho de 1789 sua filha Anna casa na Achadinha

[1] Francisco Afonso de Chaves, em A Margarida Animada, 2ª ed. do ICPD, comentada e anotada por Hugo Moreira e Nuno A. Pereira, em 1994.
[2] Crónicas da Província de S.João Evangelista das Ilhas dos Açores, ed. do Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1960-62.
[3] Saudades da Terra, ed. ICPD, 1977
[4] Frei Agostinho de Monte Alverne, id. Ib.
[5] Livro de Óbitos dos Fenais de Vera Cruz, 1780, fls.37 vº.
[6] Livro de Batismos da freguesia dos Fenais da Vera Cruz, 1766, fls.93.
[7] ver a minha História dos Açores, vol.I, p.135 da 3ª ed.
[8] Edição do Governo Regional dos Açores e da Universidade dos Açores, dirigida por Artur Teodoro de Matos,1989.
[9] José Rodrigues Ribeiro, ed. do GRA, Angra do Heroismo, 1979
[10] Ou Descrição Phisica, Politica, e Histórica dos Açores, por um Cidadão Açorense. M. da Sociedade Patriotica Philantropya (n’os Açores), Lisboa, 1822.
[11] Francisco Soares de Lcerda Machado, História do Concelho das Lages, reedição fac-similada da Associação de Defesa do Património da Ilha do Pico, 1991.
[12] António Lourenço da Silveira Macedo, na História das Quatro Ilhas que Formam o Distrito da Horta, ed. fac-similada do GRA, em 1981.
[13] António Ferreira de Serpa, em Camilo Castelo Branco, no Parlamento de 1885 e a sua Ascendência Picoense, Lisboa, 1926.
[14] Avelino de Freitas de Meneses, em Os Açores nas Encruzilhadas de Setecentos (1740-1770), II-Economia, ed. UA, 1995

[15] António L S Macedo, idem, ibidem.
[16] Ermelindo S. Machado Ávila, A Ilha do Pico-Crises Económicas, em Os Açores e as Dinâmicas do Atlântico, do Descobrimento à Segunda Guerra Mundial, ed. do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Angra do Heroismo, 1989.
[17] Avelino de Freitas de Meneses, em Os Açores nas Encruzilhadas de Setecentos (1740-1770), II-Economia, ed. UA, 1995
[18] Francisco Soares de Lacerda Machado, em Os Capitães-Mores das Lages, ed. fac-similada da ADPIP,1991.